quarta-feira, fevereiro 07, 2007
A caixa - por Rodrigo Pinto
Almet caminhava pelo deserto, suando e com um cajado na mão direita, apoiando-se nos cactos e pedras no caminho. Era meio-dia e o sol castigava seus olhos e a boca seca. Parou e procurou o cantil amarrado na cintura. Levou-o a boca e tomou alguns poucos goles, economizando o precioso líquido. Faltavam seis quilômetros para a vila, uma boa caminhada para um homem que já havia percorrido mais de 15, desde o nascer do sol. Tinha ido com uma missão até a casa de Rafath, no vilarejo vizinho, buscar especiarias e mantimentos. Por isso, vinha com uma grande mochila nas costas, e também a responsabilidade de alimentar os quatro filhos que o aguardavam com sua esposa, Ramef. Depois de tantas horas de caminhada, Almet já não pensava com clareza. Vinha com a vista turva, as mãos calejadas, e as pernas doendo. Foi quando tropeçou em alguma coisa, e foi ao chão. Preguejou com raiva e foi ver o que o havia derrubado. Observou com atenção e seus olhos brilharam ao perceber uma caixa de madeira, toda entalhada com símbolos que ele nunca havia visto. A caixa era pequena, então Almet apanhou-a e guardou num canto da mochila. Continuou sua caminhada mais tranquilo, e a mochila lhe pareceu mais leve. Não tinha mais dores nem sede, então rapidamente chegou a sua casa. Ficou muito contente em rever a família, e foi para seu quarto descansar. Observou sua mochila encostada num canto, e lembrou-se da estranha caixa. Pegou-a e examinou minunciosamente, cada símbolo, cada detalhe da caixa. Então resolveu abri-la. Decepcionou-se. Havia apenas um pedaço de pergaminho enrolado. Contrariado, desenrolou-o e leu : " Esta é a caixa de Menfarej. Deposite aqui sua dor, e nunca mais a verá. Entretanto, cuidado. O que lhe parece doloroso, pode ser seu maior tesouro." Com essa nota enigmática, Almet fechou-a novamente e foi dormir.
No dia seguinte, Almet é surpreendido com a notícia da morte de seu velho pai. Al-Elmet estava doente havia muitos meses, e já era sabido que cedo ou tarde, ele padeceria. Mas mesmo assim, Almet sofre demais. Chorava o tempo todo, e durante o funeral, não conseguia se controlar. Chegando em casa, lemrou-se da caixinha e foi até onde ela estava guardada. Abriu-a e não encontrou o pergaminho. A caixa parecia esperar que ele depositasse algo ali. Então ele concentrou-se firmemente, pediu paz e que aceitasse a morte de seu pai. No instante seguinte, Almet sorria. A caixa mostrou-lhe seu pai entre anjos, saudável e sorridente, no paraíso. Almet olhava para o fundo da caixa e assistia aquilo como um filme. Estava feliz. Quando fechou-a, sentiu uma sensação de paz invadi-lo. Conforto. Então Almet soube que tinha encontrado uma caixa mágica, com certeza. Assim, Almet foi vivendo sua vida, sem preocupar-se com o que viesse de ruim. Confiava na caixinha. Quando seu filho mais novo adoeceu, Almet não quis saber de médicos ou hospitais. Almet correu à caixa. Abriu-a e mentalizou seu filho doente. O quanto ele estava sofrendo por ver seu filho moribundo.
A história termina com Almet procurando desesperadamente seu filho que havia desaparecido misteriosamente do berço.
No dia seguinte, Almet é surpreendido com a notícia da morte de seu velho pai. Al-Elmet estava doente havia muitos meses, e já era sabido que cedo ou tarde, ele padeceria. Mas mesmo assim, Almet sofre demais. Chorava o tempo todo, e durante o funeral, não conseguia se controlar. Chegando em casa, lemrou-se da caixinha e foi até onde ela estava guardada. Abriu-a e não encontrou o pergaminho. A caixa parecia esperar que ele depositasse algo ali. Então ele concentrou-se firmemente, pediu paz e que aceitasse a morte de seu pai. No instante seguinte, Almet sorria. A caixa mostrou-lhe seu pai entre anjos, saudável e sorridente, no paraíso. Almet olhava para o fundo da caixa e assistia aquilo como um filme. Estava feliz. Quando fechou-a, sentiu uma sensação de paz invadi-lo. Conforto. Então Almet soube que tinha encontrado uma caixa mágica, com certeza. Assim, Almet foi vivendo sua vida, sem preocupar-se com o que viesse de ruim. Confiava na caixinha. Quando seu filho mais novo adoeceu, Almet não quis saber de médicos ou hospitais. Almet correu à caixa. Abriu-a e mentalizou seu filho doente. O quanto ele estava sofrendo por ver seu filho moribundo.
A história termina com Almet procurando desesperadamente seu filho que havia desaparecido misteriosamente do berço.
segunda-feira, fevereiro 05, 2007
O que é importante pra mim - por Rodrigo Pinto
Atenção : este texto não foi revisado, não é baseado em fatos reias e não tem patrocínio de nenhuma das empresas citadas.
Aristides acordou cedo na quinta-feira. Levantou-se com dificuldade, culpa das doses de vodka que ingeriu na noite anterior. Meio trôpego, caminhou lentamente até o banheiro, e o contato do azulejo frio na sola dos pés fez com que despertasse um pouco mais. Vagarosamente abriu o chuveiro, e tomou um rápido banho. Alguns minutos depois, já barbeado e vestido, saiu de casa atento. A cabeça doía, então passou numa farmácia pra tomar alguma droga pós-ressaca. Martigando um trident de menta, correu até o ponto de ônibus, e ainda ajeitando a gravata, sentou-se na janela. Era um dia importante, não podia chegar amarrotado. O trânsito estava péssimo, e Aristides cochilou. Capotou, melhor dizendo. Aristides babava na camisa limpa e sonhava. Via prateleiras de doces e garotas de biquíni. Via um céu estrelado e também uma estrada de areia que levava a uma cachoeira.... Sonhava e sorria. Quando despertou, sentiu a camisa encharcada de baba e fedendo álcool. Praguejou contra a própria vacilada, e num rápido olhar pela janela, percebeu que havia passado do ponto. E muito. Com raiva, levantou-se desesperado, e nem percebeu sua carteira caindo do bolso. Deu sinal e desceu do coletivo lotado, sendo xingado por velhotas e office-boys de calça larga. Desceu numa rua comercial, e entrou numa loja afim de comprar uma camisa. Era um compromisso importante, droga! O dia mais importante de sua vida, talvez. Não podia chegar com baba de bêbado na camisa. A camisa tinha uma rodela amarelada de baba, ele tinha que jogar no lixo aquela porcaria, então começou a experimentar uma parecida que estava pendurada perto da vitrine. Valeska, a vendedora, aproximou-se com um sorriso, oferecendo-lhe seus serviços. Aristides mal respondeu, disse que já havia escolhido, e ia pagar. Valeska, solícita como deve se esperar de uma vendedora, foi tirar a tal da nota fiscal, para que ele pudesse pagar no caixa. Nesse meio tempo, Aristides percebeu que estava sem a carteira. Puto da vida, utilizou de sua esperteza, e rapidamente, pendurou sua camisa nojenta, babada e suada, no lugar da outra que estava vestido. Quando Valeska voltou, ele já tinha ido embora, mas ela nem notou a troca, acreditando que o homem desistira da compra. A passos largos, Aristides olhava o relógio de pulso e ia perdendo o controle. Não podia chegar atrasado, era um compromisso importante demais. Começava a ficar descontrolado. Na onda de pânico, avistou uma mulher carregando pacotes teve uma idéia. Se ofereceu para ajudar. Esta aceitou, e jogou os pacotes nos braços de Aristides, que ajudou a levar até o carro. Isso, um carro. Era o que ele precisava. Quando a mulher abriu o porta malas do automóvel, Aristides arremessou os pacotes no rosto dela, e apoderando-se da chave, saltou para dentro do veículo, ligando e acelerando com violência. A arrancada foi perfeita, e logo ele dirigia-se a toda velocidade pela avenida Rebouças para seu compromisso. Um sorriso perpassou seu rosto, ele não acreditava, ia dar tempo! Gênio! Roubar um carro para ir até o compromisso. Não era ladrão, oras. Mas tinha que tomar alguma atitude. Roubou uma camisa também. Não era ladrão, oras. Mas tinha que tomar alguma atitude. Enquanto pensava nas justificativas para seu comportamento, avistou a sua frente um comando policial. Merda! Com habilidade, virou a primeira a direita, mas não percebeu que era contra-mão. A batida foi inevitável. Chocou-se de frente com um caminhão da Coca-Cola, que derrubou caixas de lata e garrafas pela pista. Aristides sacudiu a cabeça, espalhando caco de vidro. Levantou-se e se afastou do carro, deixando pedestres e motoristas atônitos. Correu pelo meio-fio, olhando no relógio de pulso. Dobrou outra esquina e pulou um muro, fugindo como podia. Raios! Que azar! Mas ia dar tempo, ia. Ele estava a apenas dois quarteirões do local combinado. Corria como podia, mancando, pois havia machucado o joelho no acidente. Quase chegando, foi abordado por uma horda de hare-krishnas que cantavam e dançavam ao seu redor. Deu uns sopapos em uns dois deles e continuou com ânsia. Estava chegando, ia dar tempo. De repente parou. Avistou um espelho na fachada de um grande hotel. Seu estado era lamentável. Sujo e com cacos de vidro no bolso que ficava no peito da camisa. A calça estava rasgada no joelho, que sangrava. As mãos, vermelhas e quentes, também sujas de lama do rio Ganges. Sem grana, sem documentos. Procurado por roubo de carro. Lamentou-se por ser um perdedor. Sentou e chorou. Lembrou-se da vendedora Valeska, que lindo sorriso. Lembrou-se da dona do carro, tomando um saco de compras do Carrefour na fuça, e caindo desajeitada. Lembrou-se dos funcionários da Coca-Cola, desmaiados e machucados na boléia do caminhão. Lembrou-se dos pobres Krishnas, cheios de fé e amor. Então sentiu-se um egoísta. Pensou em quanta gente ele havia passado por cima pensando em si mesmo. Era tão importante pra ele. Passou uma madame e jogou-lhe umas moedas. Ele comprou um cigarro solto, e fumou calmamente. Foi caminhando lentamente de volta pra casa. Olhou no relógio e sorriu : pelo menos, teria dado tempo.
Aristides acordou cedo na quinta-feira. Levantou-se com dificuldade, culpa das doses de vodka que ingeriu na noite anterior. Meio trôpego, caminhou lentamente até o banheiro, e o contato do azulejo frio na sola dos pés fez com que despertasse um pouco mais. Vagarosamente abriu o chuveiro, e tomou um rápido banho. Alguns minutos depois, já barbeado e vestido, saiu de casa atento. A cabeça doía, então passou numa farmácia pra tomar alguma droga pós-ressaca. Martigando um trident de menta, correu até o ponto de ônibus, e ainda ajeitando a gravata, sentou-se na janela. Era um dia importante, não podia chegar amarrotado. O trânsito estava péssimo, e Aristides cochilou. Capotou, melhor dizendo. Aristides babava na camisa limpa e sonhava. Via prateleiras de doces e garotas de biquíni. Via um céu estrelado e também uma estrada de areia que levava a uma cachoeira.... Sonhava e sorria. Quando despertou, sentiu a camisa encharcada de baba e fedendo álcool. Praguejou contra a própria vacilada, e num rápido olhar pela janela, percebeu que havia passado do ponto. E muito. Com raiva, levantou-se desesperado, e nem percebeu sua carteira caindo do bolso. Deu sinal e desceu do coletivo lotado, sendo xingado por velhotas e office-boys de calça larga. Desceu numa rua comercial, e entrou numa loja afim de comprar uma camisa. Era um compromisso importante, droga! O dia mais importante de sua vida, talvez. Não podia chegar com baba de bêbado na camisa. A camisa tinha uma rodela amarelada de baba, ele tinha que jogar no lixo aquela porcaria, então começou a experimentar uma parecida que estava pendurada perto da vitrine. Valeska, a vendedora, aproximou-se com um sorriso, oferecendo-lhe seus serviços. Aristides mal respondeu, disse que já havia escolhido, e ia pagar. Valeska, solícita como deve se esperar de uma vendedora, foi tirar a tal da nota fiscal, para que ele pudesse pagar no caixa. Nesse meio tempo, Aristides percebeu que estava sem a carteira. Puto da vida, utilizou de sua esperteza, e rapidamente, pendurou sua camisa nojenta, babada e suada, no lugar da outra que estava vestido. Quando Valeska voltou, ele já tinha ido embora, mas ela nem notou a troca, acreditando que o homem desistira da compra. A passos largos, Aristides olhava o relógio de pulso e ia perdendo o controle. Não podia chegar atrasado, era um compromisso importante demais. Começava a ficar descontrolado. Na onda de pânico, avistou uma mulher carregando pacotes teve uma idéia. Se ofereceu para ajudar. Esta aceitou, e jogou os pacotes nos braços de Aristides, que ajudou a levar até o carro. Isso, um carro. Era o que ele precisava. Quando a mulher abriu o porta malas do automóvel, Aristides arremessou os pacotes no rosto dela, e apoderando-se da chave, saltou para dentro do veículo, ligando e acelerando com violência. A arrancada foi perfeita, e logo ele dirigia-se a toda velocidade pela avenida Rebouças para seu compromisso. Um sorriso perpassou seu rosto, ele não acreditava, ia dar tempo! Gênio! Roubar um carro para ir até o compromisso. Não era ladrão, oras. Mas tinha que tomar alguma atitude. Roubou uma camisa também. Não era ladrão, oras. Mas tinha que tomar alguma atitude. Enquanto pensava nas justificativas para seu comportamento, avistou a sua frente um comando policial. Merda! Com habilidade, virou a primeira a direita, mas não percebeu que era contra-mão. A batida foi inevitável. Chocou-se de frente com um caminhão da Coca-Cola, que derrubou caixas de lata e garrafas pela pista. Aristides sacudiu a cabeça, espalhando caco de vidro. Levantou-se e se afastou do carro, deixando pedestres e motoristas atônitos. Correu pelo meio-fio, olhando no relógio de pulso. Dobrou outra esquina e pulou um muro, fugindo como podia. Raios! Que azar! Mas ia dar tempo, ia. Ele estava a apenas dois quarteirões do local combinado. Corria como podia, mancando, pois havia machucado o joelho no acidente. Quase chegando, foi abordado por uma horda de hare-krishnas que cantavam e dançavam ao seu redor. Deu uns sopapos em uns dois deles e continuou com ânsia. Estava chegando, ia dar tempo. De repente parou. Avistou um espelho na fachada de um grande hotel. Seu estado era lamentável. Sujo e com cacos de vidro no bolso que ficava no peito da camisa. A calça estava rasgada no joelho, que sangrava. As mãos, vermelhas e quentes, também sujas de lama do rio Ganges. Sem grana, sem documentos. Procurado por roubo de carro. Lamentou-se por ser um perdedor. Sentou e chorou. Lembrou-se da vendedora Valeska, que lindo sorriso. Lembrou-se da dona do carro, tomando um saco de compras do Carrefour na fuça, e caindo desajeitada. Lembrou-se dos funcionários da Coca-Cola, desmaiados e machucados na boléia do caminhão. Lembrou-se dos pobres Krishnas, cheios de fé e amor. Então sentiu-se um egoísta. Pensou em quanta gente ele havia passado por cima pensando em si mesmo. Era tão importante pra ele. Passou uma madame e jogou-lhe umas moedas. Ele comprou um cigarro solto, e fumou calmamente. Foi caminhando lentamente de volta pra casa. Olhou no relógio e sorriu : pelo menos, teria dado tempo.
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