quarta-feira, novembro 29, 2006

Dentes grandes - por Rodrigo Pinto

Sombria e traiçoeira, ela movia-se rapidamente, quase invisível pela escuridão. Como um bicho peçonhento, rastejava agilmente em direção de sua presa. Seus ouvidos captavam o menor ruído e o faro aguçado permitia sentir cheiros a quilômetros de distância. Ouvia o som de música alta e conversa. Altas horas da noite, a hora preferida. Galgava o topo das árvores levemente, quase sem peso. Deparou-se com um muro alto, e num pulo já estava do outro lado. Vestida de negro, cabelos loiros, ela era um perigo ambulante. Invadiu o clube e já conseguia enxergar sem dificuldade o salão de baile lotado. Jovens bebendo e rindo, rock'n roll rolando. Era dia de show do Korzus e ela sabia que no meio da galera nem seria notada. Nenhum daqueles adolescentes perceberia aquela loira pálida e fria movendo-se entre eles. Ela ajeitou os cabelos, arrumou o generoso decote e adentrou. Alguns caras admiravam sua beleza, sem perceber o quanto era amaldiçoada. Andou alguns passos acompanhando a música e encostou no balcão do bar. Não demorou para ser notada por Alfredinho, moleque com fama de conquistador que andava sempre pelo salão atrás de gatas pra paquerar. Ao ver aquele loira sozinha no bar, não pensou duas vezes. Caminhou até ela e puxou conversa :
- Oi gata, nunca te vi por aqui.
-Essa é velha, guri - disse ela, sorrindo maliciosamente.
-Mas parece que você gostou ! Sou o Alfredinho.
-Muito prazer, meu nome é Aléxia.
-Uau que nome diferente gata. Vamos dançar?
-Não sei dançar. Mas sei fazer muitas outras coisas se vier comigo...
Alfredinho arregalou os olhos e acompanhou Aléxia levantando-se e saindo jogando os cabelos, exalando sensualidade. Ela, por sua vez, reparou na veia pulsante no pescoço do rapaz, e com facilidade estava seduzindo-o.
Sem demora ele foi atrás dela que saía do salão e ia para o jardim. No meio do caminho, bêbados, maconheiros e casais se misturavam na escuridão. Alfredinho não estava acreditando na sua sorte, e agarrando Aléxia pelo braço, pediu :
-Espere por mim!!
Ao sentir o pulso gelado da garota, soltou-o. Ela virou -se e encarou-o com olhos vermelhos como brasa. Assustado, o garoto recuou, mas no momento seguinte ela já o segurava pelo pescoço e com força vampírica, esmagava sua traquéia. Deixou as presas a mostra e cravou com força no pescoço de Alfredinho que sem ar, não conseguia gritar. Sorveu grandes goles e soltou o corpo inerte no chão. Limpou o sangue com as costas da mão, e com o bico da bota, empurrou o cadáver sem sangue para atrás de um arbusto.
-Não disse que sabia fazer outras coisas , Alfredinho ? - e riu maldosamente.
Agora ela estava alimentada, pronta para realizar sua vingança. Com o sangue tomado, seu corpo parecia muito mais belo, os cabelos brilhavam com a luz da lua. Ela era linda, sensual e mortal. Um perigo delicioso. Ela tem dentes grandes.

......homenagem a André Vianco.......

terça-feira, novembro 28, 2006

Um dia de cão

7:00 da manhã, 27º graus, uma ressaca do caralho acompanhada de uma diarréia filha da puta, me levanto, sabendo que estou atrasado e não acho uma camiseta limpa.
Pego uma camiseta preta e desbotada do Metallica e me dirijo para o ponto de ônibus, que pra minha “sorte” acabou de passar. Por isso tenho que correr dois quarteirões e inteceptá-lo antes da avenida principal do bairro. Quando consigo pegar a porcaria do coletivo, que já está lotado, lembro que esqueci minha maconha, essas pequenas coisinhas do dia-a-dia acabam com minha paciência na quarta-feira logo cedo. Mas ainda não acabou sentam duas Marinetes uma perto do cobrador, outra no último banco e ficam conversando, com aquelas vozes de gralha , acho que nuns 137 decibéis, e meu nível de estresse aumenta. Rapidamente, uns 40 minutos depois, eu chego ao metrô que por coincidência também está lotado e não é que as duas desgraçadas com voz de gralha pegam o mesmo vagão que eu!
Mas não perco a esportiva, vou espremido até a desgraça da estação da Sé, lá entra a já famigerada manada de gnus-de-rodeio e me imprensam ainda mais, pra piorar uma velha me olha feio achando que eu to encoxando aquela bunda gorda, que mais parece uma casca de mixirica, mas mesmo assim eu continuo impassível.
Enfim chego a estação do meu destino (sim aquela merda de empresa exploradora que banca a merda do meu aluguel) ainda corro mais dois quarteirões pra não chegar depois do horário, mas mesmo assim perdi 5 preciosos minutos da empresa.
Nessa hora seu José, um nordestino legal que cuida da portaria vem me zuar e diz que estou 5 minutos atrasado, ele não devia ter dito isso.
Respondo com toda a classe que os presidiários do extinto Carandiru tinham
- Vai tomar no cú velho filho da puta!
E entro calmamente, na sala onde irei passar mais 9 relaxantes horas do meu dia.

segunda-feira, novembro 13, 2006

100 título - por Rodrigo Pinto

Atestando a qualidade dos produtos.
Ao princípio da nobre 2° feira, domingo descontrolado, a ponto de danos materiais causados pelo excesso de confiança adquirido pelo cio feminino. E que saudades. Aquele segredo tão macio e quente, aquela noite louca, ouvindo Kleiton e Kledir cantar paixão. Proximidade e querer que linhas loucas possam trazer a realidade infinita, num maluco loop de emoção, em cada gesto, em cada sorriso, em cada toque ao bel querer. A vida prometida, levando a sério cada momento, te mantendo firme as suas convicções.
Pagando caro, talvez nada. Nunca é sempre e cada segundo é um aprendizado. É até engraçado os caminhos do pecado.
Confiar em si mesmo e torcer pelo bem. Eternamente bem. Começa assim, as vezes mal. Onde será que isto vai parar? Pagar pra ver. 27 anos de felicidade, olhando coisas mesquinhas e mantendo-se atento. Admira-se com o novo mundo. O nosso, velho e bom, esquecido e trocado por momentos com alguém. Continua ali, esperando como a noiva que até o último instante, permanece no altar. Deixa aflorar o que é belo, o resto jogue aos ratos. Confia e percebe o quanto tem ainda para "mostrar". A quem?
Orgulha-te a ti mesmo e o som que te agrada é a vontade não forçada que te guia ao certo caminho. Não para ninguém, sim pra todo alguém que queira participar. Confunde as idéias e afasta o pensamento, essa presença terna de um velho boêmio, cercado de secos e molhados, de aventuras e esperança, fica claro o risco a correr. Nada é por acaso, e será resolvido de acordo com a fé que traz. Posso parar agora? Olhar do lado e ter certeza de que vai valer a pena.