quinta-feira, julho 27, 2006

Coito interrompido

O frio está cortante, o vento parece assobiar em meus ouvidos quando passo pelos desfiladeiros criados pelos arranha-céus da 24 de maio, eu devia ir pra casa mas ainda são apenas 2:40 da manhã, eu ainda estou careta e sem inspiração pra escrever minha coluna semanal naquele jornal direitista de merda, mas que em compensação, está pagando o estacionamento na praça ramos onde deixei minha moto ( sim! agora ando de moto, perigoso, radical, e não viro mais abóbora).
Espero que o bom e velho Sol Nascente esteja aberto, afinal com as merdas que o pcc anda fazendo pela cidade é bem capaz daquele bunda-mole do Cidão ter fechado o boteco, com estes pensamentos me assaltando a mente noto que as ruas estão mais vazias e que os policiais parecem andar fugindo em seus carros luminosos como arvores de natal, noto também que é seguro acender meu baseado enquanto não chego ao bar.
Acendo meu beckzinho e continuo a caminhar de repente sem mais nem menos um grupo de adolescentes sai da rua Marconi fazendo algazarra e conversando em voz alta, algo que faz com que eu me interesse por suas palavras. O que parece ser o líder da matilha diz algo que me faz sorrir:
- Eu sou mais malandro que o D2 e Chorão juntos!
Como eu estava dizendo, sorrio, pois o que estes adolescentes que devem ser alguns poucos mais jovens que eu tem uma visão completamente equivocada do que é malandragem, sinto um vontade imensa se sentar com eles no Sol Nascente e explicar que malandros de verdade eram, Hunter Thompson, Bukowski, Nelson Gonçalves, Nelson Rodrigues, Adoniran Barbosa. Esses sim eram malandros de verdade, mas não to com saco de bancar o professor hoje, então sigo meu caminho com destino ao bar onde pretendo encontrar cerveja gelada e inspiração pra maldita coluna.
Quando entro avenida Ipiranga tenho um sensação de satisfação afinal meu boteco preferido está aberto, porém minha satisfação é interrompida em questão de segundos pois um carro da policia civil para em frente ao bar e noto que descem do carro quatro caras sendo que um deles é o Bellini, um cara que já me salvou de algumas enrascadas.
Penso que ele vai me contar algum segredo de uma investigação em que está metido e eu vou rir de suas situações com as putas da augusta. Mas não é nada disso que acontece em questão de segundos dois caras numa moto passam e dão uma rajada de metralhadora em direção a meu boteco preferido, vejo o Bellini se esconder atrás da viatura, dois policiais caírem e os vidros do bar se estilhaçarem, penso : - Que merda!
Viro nos calcanhares e decido que esta semana é melhor eu beber na merda do boteco em frente a minha casa na periferia da zona norte mesmo, e sem as histórias do Bellini, afinal daqui a cinco minutos o centro estará uma merda com policia pra todo lado e sem sossego pra uma gelada.

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