segunda-feira, abril 10, 2006

Não tô entendendo mais nada

por Minduin

Já era. Virei abóbora, 3:45 da matina, é, tenho que parar de tentar beber até o último minuto do último ônibus da noite. Agora ando pelo centro da cidade ouvindo os pingos da chuva em meu guarda-chuva velho e desgastado, o som produzido me lembra a marcação de baixo de um som do Chico Science. A grana que eu tenho no bolso daria pra pagar facilmente um pernoite num destes pulgueiros do centro, mas prefiro andar a esmo e achar um boteco onde eu possa beber até as cinco horas, quando passa o primeiro ônibus para aquele bairro suburbano onde me escondo todos os dias.
Sinto o mundo passar em câmera lenta, deve ter sido a paçoca que eu comi agora a pouco atravessando o largo do Payssandu, algumas pessoas diriam que sou corajoso por apertar uma paçoca bem no meio do centro, na madrugada, outros diriam que sou louco, eu prefiro acreditar que sou apenas inconseqüente. Minha boca está seca e a maioria dos bares da cidade está fechado, vou andando até a Ipiranga, pois sei que quase em frente a Praça da República tem uns botes que ficam abertos até de manhã. No caminho encontro os seres mais bizarros da cidade, aqueles que como eu preferem andar pela noite a ir pra casa mofar em frente à tv, Existem garotos góticos com cara de andróginos, bêbados caindo pelos cantos, viciados correndo e gritando... Bem é isso que eu gosto aqui no centro a multiplicidade de figuras.
Enfim encontro um bar aberto, é o Sol nascente bar (um nome sugestivo) ao entrar na espelunca vejo do outro lado do balcão o Bellini, este cara é um figura, é meio detetive, meio ganso, cumprimento-o com o olhar, afinal ele já me livrou a cara com uns chineses que queriam me assaltar aqui no centro e eu já fiz uns trampos como hacker pra chefe dele, mas isso não vem ao caso.
Sento em uma mesa de costas pra parede e de frente para a rua, peço uma cerveja e como a paçoca e o álcool que já estão em meu sangue começam, a fazer efeito juntos, não entendo mais nada . Olho pro lado e vejo uma morena alta vestida como se fosse uma índia saída do meio da mata agora, ou seja, apenas duas tiras de pano uma cobrindo os seios e outra cobrindo os países baixos. A garota fala alguma coisa que pra mim soa como “ranca a minha roupa e me chupa inteira” lógico que eu já meto a mão em seus seios, porém acho que não era isso que ela queria dizer, pois imediatamente sinto uma martelada na fronte esquerda e demoro pra entender que aquilo foi um soco desferido por um cara que mais parece um orangotango que um homem , caio no chão e antes de entender o que está acontecendo levo um chute tão forte na lateral do corpo que me falta o ar completamente. Tento colocar os pensamentos em ordem pra levantar e quebrar a porra da garrafa na cabeça do filho da puta que está me batendo. Mas antes de transformar o pensamento em realidade ouço um tiro, levanto a cabeça e vejo o Bellini apontando a arma pro cara e mandando-o ir embora, coisa que o brutamonte faz sem questionar.
O detetive meio ganso me ajuda a levantar me põe na cadeira e diz que, ou eu paro de mexer com a mulher alheia, ou eu paro de beber. Eu o mando se foder, ele sorri e pergunta se tô afim de um teco e me mostra a pequena almofada de fermento na palma da sua mão, digo a ele que essa hora eu não faço mais bolos. Então ele se levanta paga a minha conta e sai andando.
Enquanto eu peço outra cerveja e me pergunto “Por que cargas d’água eu fico zanzando pelas ruas ao invés de ir dormir?”.....


Este texto é mais um da série "SEM DROGAS"

4 comentários:

Arauto do caos disse...

Enquanto o sol nasce, o Minduin quase morre.
Bellini é seu herói, confeiteiro e cheira-bolo.
Mulher alheia o cacete, devia ser um travesti, mas aquela altura, Minduin não entendia mais nada.
Pede cerveja, ouve o grito de um viciado.
Toma cerveja, ouve um tiro.
Paga a conta, e vê o brilho.
Do dia que já nasceu. Vá pra casa, rapaz. Hoje a noite tem mais.

Minduin disse...

Esta é uma obra de ficção portanto todos os fatos e personagens são frutos da minha imaginação, ninguém é verdadeiro kkkkkkkk

Anônimo disse...

Paçoca e fermento. Se quisesse fazer bolo e não comer paçoca, não precisaria da ajuda do Bellini pra se livrar do brucutú.

Anônimo disse...

Bem direto, seco até...gosto do estilo não tem paradas, parágrafos longos, sem rodeios. Quando vc começa "virei abóbora", pensei que era um conto românico ou coisa assim (o cara levou um bolo, ou qualquer coisa parecida)... enfim, gostei a bessa/// mas como vc achou meu blog? nos conhecemos? Pena que esse post é antigo, por que não publicou mais? Aparece lá no sempre chove (www.semprechove.blogspot.com) e no Em Má Compania (www.emmacia.blogspot.com) quando quiser, geralmente posto às quintas, mas pode variar... trocaremos figurinhas... beijos