terça-feira, abril 18, 2006

O moleque - por Rodrigo Pinto

E aquele moleque andava tenso, com as duas mãos no bolso da jaqueta, olhando para os lados, desconfiado. Caminhava a passos rápidos, segurando o cano do revólver com força, e tremendo. Tremia, mas estava decidido. O irmãozinho menor estava passando fome, porra. A mãe, bêbada e velha, não prestava mais pra nada, e passava o dia inteiro no colchão jogado no chão do barraco, dormindo e tomando aquela cachaça vagabunda, que a fazia vomitar a bílis constantemente. Droga, tinha apenas 15 anos e fazia o papel de homem da casa. O pai, à muito tempo não dava as caras, devia estar morto o filho da puta. Põe filho no mundo e depois vai embora. Merda, o choro do bebê lhe dava calafrios. Tinha apenas 15 anos, mas alguém tinha que fazer alguma coisa. Não ia mais a escola, não arranjava emprego. Tinha que fazer algo. Lembrou-se da pistola 9 milímetros, que seu primo Neco tinha escondido dentro do bule de café, momentos antes da polícia invadir o barraco e levá-lo em cana. Era gente boa o Neco, apesar de roubar grandes agências bancárias e também a caixinha de esmolas da igreja. Pelo menos não faltava nada. Era leite na geladeira, torradas e biscoitos no armário. Arroz e feijão e uma dúzia de ovos. E gás. Bujão de gás valia ouro na favela. E o Neco não deixava faltar. Andava sempre com roupas novas, e relógio de pulso. Merda. Agora o Neco estava vendo o sol nascer quadrado, e alguém tinha que fazer alguma coisa naquele barraco. Porra, só tinha 15 anos. Meio sem jeito, foi até o bule e pegou a arma do Neco. Já tinha visto ele mexer com a arma, então verificou o pente e meteu o cano no bolso da jaqueta. E agora estava ali, naquele puta frio, andando nervoso, sabe-se lá pra onde, mas sabia que tinha que fazer alguma coisa. Não era ladrão, mas a situação o levava a ser. Magro, negro e sujo. Altamente suspeito. Touca preta na cabeça, e mãos no bolso. Olhar sorrateiro. Mas só tinha 15 anos. Avistou um casal de nmamorados, passeando sorrindo, com sacolas nas mãos. As sacolas tinham o logotipo de uma grande marca de calçados, coisa de bacana. O moleque os seguiu. Apaixnoados, andavam se beijando, se abraçando e não perceberam a aproximação de um negro magro, de touca e jaqueta velha. Ele tremia. Suava frio, e o vento gelado congelava seus sentimentos. Estava seguindo o casal de perto, e ao chegarem perto de um beco, engatilhou a arma e preparou-se para a abordagem. Porra, só tinha 15 anos, ia meter a arma na cara de pessoas inocentes e felizes, pra levar um par de tênis. Aquele tênis valeria uma boa grana, era coisa de bacana. Poderia vender na feirinha do rolo e comprar comida pro bebê. Ia começar sua vida no crime. Logo, estaria de roupas novas, e relógio no pulso, como o Neco.

Continua...

3 comentários:

Anônimo disse...

Pô Cabelo, quero dizer, ham ham, Rodrigo Pinto, tá muito loko o blog hein? Como tinha te falado, com a correria naum tinha acessado antes. Vou ler os outros posts... mas continua logo essa do moleque de 15 anos, pô...
Deu certo o suspense...rsrs. Vc parou na hora do assalto... Grande abraço e sucesso pra vc e pro Minduca

Anônimo disse...

Gostei. Vc tem talento cara. Quanto ao Moss-Garden... É que o Mr. Rickman faz o favor de me atormentar, compreende? Quando eu desapaixonar veremos huahua. Bjão!

Anônimo disse...

Porra, tá parecendo uma letra dos Racionais! (imitando o seu texto)
Só falta um 'dim dim dom, o rap é o som, dentro de um Opala marrommmm'...
Hihihi, desculpa aí, não tô muito inspirada para comentar hoje....
Bejitos, Perrito! =)