terça-feira, março 28, 2006

brisa literária - por Janaina Gomes, colaboradora do Arauto

Essa é mais uma dessas histórias onde o nome dos personagens não interessa.
Ela pode ter acontecido hoje, ano passado ou há 15 anos.
Não interessa.
Aconteceu assim:
Ela estava na 3ª volta da piscina olímpica do clube, que se encontrava vazio.
Parou no meio da piscina e olhou em torno, percebeu que errara ao supor que estivesse só. Havia, agora, um homem sentado numa cadeira próxima à borda. O estranho lia uma revista e enquanto ela o olhava seus olhares se cruzaram.
A moça voltou a nadar e deu mais duas voltas e resolveu ficar ali boiando um pouco ...
Quando olhou novamente ELE havia parado de ler a revista e olhava fixamente para ELA.
Neste momento ela é acometida por uma súbita câimbra, o seu rosto torna-se uma máscara horrenda de dor... suas pernas doíam terrivelmente – ela não percebera que havia ido para a parte funda da piscina enquanto boiava. Enquanto ela olhava o estranho começou a sacudir os braços para chamar sua atenção. Ela se agitava e as agulhadas invadiam sua carne e a puxavam para o fundo, começou a engolir água enquanto tentava se levantar. Entre um erguer-se e um aforgar-se os olhos deles se cruzaram novamente, a dor subia pela espinha e já faltava-lhe ar, percebeu que lágrimas escorriam.
Ela precisava da ajuda dele.
Sentiu,enquanto miravam-se, que ele percebia que ela estava se afogando; mas, não parecia disposto a levantar-se, saltar na água, molhar suas roupas e salvá-la. Ele não parecia querer gritar para alguém por socorro e ir em seu auxílio. Ele só olhava-a.
Nisto ela pensa que deveria chamar por ele.
Sim!
Talvez fosse esse o desejo dele. Que ela implorasse por sua vida.
Ela percebe então, no fundo da retina daquele estranho, que não importaria, ela poderia gritar, implorar, clamar por misericórdia. Ele não ajudaria.
Por um momento ele sorriu como que convidando-a a gritar.
As pernas dela já estavam insensíveis tamanha era a dor. Ela deixa que as águas a levem para o fundo.
Seu pensamento naquele derradeiro instante foi: Ele jamais terá de mim esta última humilhação.

Janaina março/06

3 comentários:

Anônimo disse...

Grande texto! Tinha que ser da minha miga-gêmea! Espero que venha mais de onde saiu este...

Anônimo disse...

morreu mas não pediu socorro por orgulho!!!!! será que o cara sentado não era a morte a esperar!?!?!?

Anônimo disse...

HAHAHAHAHAHHAHAHA!
Nossa, muitoooo bom!
Senti a agonia dela, os pensamentos dela, e o melhor foi a última parte, um pensamento tipicamente feminino: "Ele jamais terá de mim esta última humilhação." rs
Vc já leu um texto e pensou "caramba, queria ter escrito ele."
Sinta-se lisonjeada, senti isso ao lê-lo. =)
Tô botando em dia meus coments aqui, não acredito que não tinha visto antes....
Bjosss