quarta-feira, março 15, 2006

Passeio Noturno

Insônia era o problema de Micail. Não dormia com lua, estrelas, essas coisas que vêm junto com o descanso. Não gostava dessas balelas de vampiro, seres da noite, mas bastava o sol se esconder, e Micail não conseguia pregar os olhos. Revirava na cama, se enrolava nas cobertas, mas de nada adiantava. Certa noite, cansado de ficar deitado se revirando como lingüiça na frigideira, Micail levantou-se, vestiu uma calça jeans velha, uma camiseta preta e saiu pela porta da frente. Acendeu um cigarro, e sem saber pra onde ir, foi caminhando no sentido de um posto de gasolina que ficava alguns quarteirões de sua casa. O referido posto era ponto de encontro de jovens com carros turbinados, e havia uma dessas lojas de conveniência que abastecia os ânimos da galera com muita cerveja e vinho. Era uma terça-feira quente de fevereiro e as ruas ficavam cheias até tarde da noite. Chegando ao posto, Micail ficou impressionado com a algazarra. Tragando profundamente seu cigarro, vislumbrou carros com motores roncando, outros com porta-malas abertos exibindo caixas de som do tamanho de bicicletas e que faziam um escândalo ensurdecedor com as músicas mais tocadas das rádios FMs. Garotas dançando e bebendo, rebolando e sorrindo para os rapazes que exibiam suas máquinas, e adrenalizados aceleravam pela avenida. Micail odiava aquilo. Queria dormir e não podia. Raiva. Rebeldia. Não tinha amigos ali, e nem queria. Tragou mais uma vez, jogou a bituca no chão e continuou caminhando. A pequena bituca foi rolando, até encontrar um rastro de gasolina. Micail só ouviu a explosão, e gritos. O posto foi pelos ares. Todos os jovens mortos e o silêncio da noite agora só era quebrado pelo crepitar das chamas. Micail voltou pra casa, e pela primeira vez nos últimos meses, conseguiu dormir tranquilo.

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