terça-feira, março 14, 2006

Um dia normal

Texto de
Luiz Bernardo Junior

O homem abriu os olhos e deu uma espiada pela janela, o dia amanheceu cinza chumbo, parecendo premeditar a melancolia que corroeria seu coração durante o dia. Inspirou profundamente, passou a mão pela barba e sentiu uma dor lancinante na cabeça resultado da excessiva quantidade de álcool da noite anterior. Quando na conversa com amigos e com a mesa abarrotada de garrafas de cerveja e vinho barato tentava esconder de si mesmo a insatisfação com o mundo porém sem um motivo aparente.

Levantou-se coçou a barba mais uma vez e pegou a maconha que estava no bolso da calça, bolou um baseado deixou sobre a mesa da cozinha e foi para o banho. Com a velha calça jeans e a camiseta desbotada preparava-se para sair quando se lembrou do baseado sobre a mesa voltou pegou o beck e foi para seu trabalho rotineiro na secretaria de administração municipal onde era apenas o cara do 25º que ninguém conhecia realmente, ao fechar a porta acendeu o baseado como se fosse um cigarro, há tempos já havia decidido deixar de esconder seu vício dos vizinhos.

Ao passar pelo portão parou na caixa de correios pegou as contas que, este mês pelo menos, estavam todas em dia, reclamou como fazia sempre que abria uma correspondência da companhia de luz, colocou as contas dobradas no bolso de trás da calça e seguiu em direção ao ponto de ônibus, podia ter ido de carro, mas achava que deixando o carro em casa durante a semana contribuía para a redução do buraco na camada de ozônio.

O beck estava na ponta quando ele entrou distraidamente na avenida principal do bairro, pensava em como resolver um problema de trabalho que havia deixado pendente no dia anterior e em como convencer aquela gata da recepção a ir tomar uma gelada com ele no bar do joão depois do expediente. Levou um susto quando escutou a freada brusca da blazer “são paulina” de onde desceram quatro orangotangos fardados despejando ofensas :
- Aê maconhêro filho da puta não se mexe!!! Encosta na parede! Vai logo, seu pau no cú do caralho!! Cadê o resto? Onde você pegou essa porra??

Ele como sempre se manteve impassível e respondendo somente o indispensavél aos brucutus fardados até o momento em que o menor e mais idiota dos policiais lhe deu um soco no peito por achar que ele estava calmo demais diante de tamanha ignorância. Ao sentir a dor no osso esterno e a falta de ar ,sentiu tanto ódio dos filhos da puta que era como se seus olhos pudessem perfurar as almas e de quebra os olhos de diversas gerações daqueles desgraçados, porém manteve-se impassível.

Depois disso os policiais foram embora sem importuná-lo mais, e ele seguiu seu caminho em direção ao ponto de ônibus...

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