quinta-feira, março 30, 2006

Posso ir agora ? - texto de Rodrigo Pinto

Sobriamente, abotoou o casaco e protegeu-se do vento frio daquela manhã de 5feira. A passos largos, caminhava sem olhar para os lados, os pensamentos confusos e dispersos. O vento gelado deixava a ponta do nariz vermelha. Lágrimas geladas juntavam-se no canto dos olhos. O cabelo, despenteado. Não sabia onde ir, sabia que queria mais. O sol nascia devagar e alguns raios luminosos refletiam na calçada. Crianças de mãos dadas com os pais iam para o colégio, e homens de gravata e mulheres de sandálias esperavam o ônibus para ir trabalhar. Reparou num vira-lata velho, esperto nas ruas, que olhava para os dois lados antes de atravessar. Continuava a sua caminhada, e sorria ao ver um passarinho pousado no fio de alta tensão. Ao se aproximar de uma banca de jornais, parou. Desempregados liam as notícias do dia nos jornais pendurados na parte lateral da banca. Uma velhota comprava uma revista de fofocas, com fotos de gente rica e sorridente na capa. Parou, enfiou a mão no bolso de trás da calça e tirou um maço de cigarros amassados. Acendeu um, e continuou a caminhar. Passa por uma turma de punks sujos, que deviam ter passado a noite sentados ali mesmo, discutindo política e anarquismo, e bebendo uísque de procedência duvidosa. Um desses lhe pede um cigarro, ele nega. Lembra-se do caminho e vira à direita. Passa pela igreja onde as beatas disputam lugar com os mendigos na porta. Do lado, uma garotinha vendia flores. Revirou os bolsos, juntou umas moedas e comprou algumas. Sentiu-se ridículo carregando aquelas lindas e cheirosas rosas vermelhas, mas continuou seu caminho. Alguns nem o notavam, outros o estranhavam. O trânsito parado. Sirenes. Uma moto caída, e um carro importado com o pára-choque amassado. Um corpo no chão. Não parou pra ver quem era. Continuou a andar, jogando a bituca do cigarro no chão. Chegou na porta do cemitério. Respirou fundo e entrou. Passarinhos cantavam e o sol já esquentava as lápides. Abriu o casaco e do bolso tirou uma anotação que não conseguia ler. Andou algumas quadras, passou por um coveiro que ajeitava flores em uma tumba recém fechada. Deteve-se um minuto ali, e quando o funcionário se retirou, aproximou-se. Agachou, e depositou suas flores ali também. Reconheceu sua foto no mármore, que refletia o sol. Levantou-se assustado e correu. Voltou para o local do acidente que havia ignorado. Lá, a polícia havia coberto com um plástico preto o motoqueiro de má-sorte. Só conseguia ver os pés do cadáver. Parado ao lado do corpo, um jovem. Alto, jaqueta de motoqueiro. Calça jeans surrada. Calçava botas idênticas à do defunto. Estava pálido, parecia não entender onde estava ou o que se passava, alheio aos acontecimentos. Notou que o jovem observava tudo com medo. Caminhou até ele e então lhe ofereceu um cigarro. Do lado deles, uma menininha vendia flores, o cheiro de morte invadiu suas narinas. Seria o perfume daquela mulher, que apareceu de repente, toda de negro, que maldosamente sorria e lhe estendia um isqueiro?

quarta-feira, março 29, 2006

É TÃO DIFÍCIL ASSIM? capítulo 4 - texto de Rosa Pellegrino (um toque feminino no Arauto)

Capítulo 4



Eles não se viram até o jantar. Nessa hora, constatou uma Edrea distante e que não o olhou sequer por um segundo. "Menos mal" concluiu Snape.
"Severus, venha até meus aposentos após o jantar", Alvo o interrompera em seus pensamentos.
"Sim senhor."
Snape viu quando Edrea se retirou, antes de terminar o seu jantar. Depois acompanhou Alvo até os aposentos do velho amigo.
"Sente-se", indicou Alvo. "Sabe Severus, fiquei realmente muito preocupado com a sua atitude de hoje a tarde."
Severus fez uma cara de surpresa e indignação. "Aquela atrevida falou exatamente o QUE ao senhor?"
"A Srta. Gray" – frisou – "não me disse nada. Lupin veio até mim um tanto preocupado. Disse que nunca o virá tão transtornado, ainda por cima por causa de um cavalo!!"
"Aquele Lupin, além de intrometido é um fofoqueiro", disparou Severus.
"É tão difícil assim?"
"O que Alvo?"
"Boa noite Severus."
"Mas Alvo..."
"Boa noite" repetiu o sábio bruxo.
Snape se retirou mudo e foi direto para as masmorras.
Em seus aposentos, Edrea sentia-se um lixo... "É Edrea, a vida tem seus problemas meu bem... para quem nunca ligou para que os outros dizem, você está valorizando muito o que aquele amargurado faz contigo..." zombou o seu reflexo no espelho. "Ah vai pro inferno", vociferou para a imagem. Jogou-se na cama, sem trocar de roupa, acompanhada de uma garrafa de vinho. Firenze a olhava sem compreender. Aquela noite Edrea teve seu primeiro porre.
Firenze saiu após ver que a dona adormecera e se encaminhou às masmorras. Lá, arranhou a porta e rugiu para chamar a atenção.
Qual não foi o espanto de Snape ao se deparar com o bichão a sua porta, entrando sem cerimônia. "Olá Firenze! O que o traz aqui uma hora dessas?" O felino o surpreende novamente: senta-se a sua frente, fixa o olhar e o analisa como da primeira vez que se viram. Dando um muxoxo, Firenze finalmente se deita, cruza as patas e apóia a cabeçorra nelas, sem desviar o olhar inquiridor de Snape.
"O que eu fiz?" sussurra Snape. Mas ele já sabia a resposta. "Firenze, eu..." disse ao mesmo tempo em que ia ao bichão. Este desvia desdenhosamente o olhar e solta um som indefinível, algo como um 'humph'. Subitamente, a pantera se levanta e puxa Snape pela calça. "Ok Firenze, me mostre o que você quer." E seguiu o bicho.
Suas desconfianças estavam certas. Firenze o levava aos aposentos de Edrea. Ao chegar, nota que está tudo muito quieto, uma preocupação toma por fim todo o seu ser. Snape entra num local desconhecido, e avalia com uma ponta de satisfação se tratar do quarto da colega. O lugar estava quase que na penumbra, não fossem algumas velas que iluminam parcamente o recinto. Os olhos de Snape são atraídos magneticamente para a cama e vê que um corpo lá está. Se aproxima ao mesmo tempo em que Firenze sobe e se senta na cama. Era Edrea dormindo profundamente.
Seu pé bate em algo. Olhando para o chão, o bruxo se abaixa e pega uma garrafa vazia. Lê o rótulo, cheira a essência. "Até a última gota", comenta e volta suas atenções a Edrea. Foi então que uma mancha o atraiu mais ainda. A mão da bruxa jazia numa exagerada concentração de sangue no lençol.
Snape dá a volta na cama e consegue ver o motivo: cacos de cristal compunham a cena, alguns cravados profundamente na bela mão da moça, outros largados a sua volta. Snape olha rapidamente para o felino, que acompanhava tudo atentamente. O bruxo remove os cacos com um feitiço e começa os cuidados com a bruxa adormecida. Primeiro retira caco por caco e vê que a mancha não é à-toa: há cortes profundos. Depois conjura alguns ungüentos e toalhas. Limpa delicadamente a mão e aplica carinhosamente os remédios. Por fim envolve os ferimentos com curativos e sorri ao notar que o sangue estancara.
Volta-se para o outro lado da cama e olha atentamente cada detalhe daquele rosto adormecido, memorizando cada traço, como se fosse uma pintura renascentista incrível ou como se nunca mais pudesse vê-los novamente. Sem pensar, dirigi-se aos lábios da bruxa, mas a sua razão o freia novamente. "Por Merlin, qual é o seu problema Severus?" Contenta-se em depositar um beijo carinhoso na testa. Acena com a cabeça ao bichano e sai sem dizer nada.
De volta as masmorras, Severus estava totalmente imerso em um turbilhão de acontecimentos. Sua razão tentava, cada vez mais dificilmente, o trazer ao seu equilíbrio, mas o seu lado sempre oprimido das emoções teimava em se posicionar, dando um ultimato ao bruxo em estado de confusão. Aquela noite, Snape custou a dormir e quando o fez, o fez muito mal, acordando um traste na manhã seguinte.

terça-feira, março 28, 2006

Tempos modernos

Texto do Minduin


È, realmente os tempos mudaram. A cerveja não custa mais R$1,50, a maconha ainda custa R$5,00 mas vem um terço do que vinha nos áureos tempos, os melhores jogadores do brasileirão não são brasileiros, as putas agora se dizem dançarinas.
Com todas estas constatações eu chego a conclusão de que a roda do tempo realmente é implacável.
Há dez anos eu achava que os caras da esquerda eram sempre os mais honestos, que as bandas boas surgiam por acaso do destino e que todas as mulheres eram sedentas por sexo. Quanta ingenuidade! Mas também, há dez anos atrás, eu tinha quase nenhuma experiência sexual, não conhecia neosindicalistas e achava jazz e blues coisa de velho.
Agora, nesta tarde modorrenta em que o dia se arrasta feito um saci de patinete, olho o português (que eu tenho certeza que é de campinas) me servindo uma cerveja “meio-gelada” e me pergunto e os próximos dez anos?? Minha pança de breja continua aumentando, minha grana diminuindo e o futuro se mantém sombrio.
Tento desviar minha mente destes pensamentos lúgubres, encho o copo de cerveja e me lembro de Clotilde uma morena que eu comia há alguns anos, tento me lembrar o porque ela deixou de me ligar... Ah ta lembrei, acho que não devia ter dado uma cotovelada na coluna dela, mas também... quem mandou ela pedir pra eu bater... logo quando ela estava de quatro....
Olho para o lado, tomo mais um gole de cerveja e começo a prestar atenção num casal muito estranho que desce de um carro e se encaminha para a relojoaria em frente.
Estranho porque estão os dois com cara de poucos amigos, ela carrega algo pesado dentro da bolsa e ele esconde algo dentro da jaqueta, apesar de estar fazendo uns 40ºc. Segundos depois do casal entrar na loja escuto gritos, vidros se quebrando e um estampido.
Quase ao mesmo tempo o vidro da frente da relojoaria estoura e eu vejo algo vindo em minha direção, acho que é um besouro ou uma varejeira tento me desviar, mas não sou ágil o bastante e sinto a inseto bater em minha testa. Só então percebo que não era um inseto, era um projétil de chumbo, sim uma bala, que entra com tanta força em meu crânio que chega a jogar minha cabeça pra trás.Não consigo me mexer perdi todas as faculdades motoras, só sinto uma dor lancinante na cabeça e caio da cadeira........

Homem de fibra - por Rodrigo Pinto

Enquanto ouvia as ondas, lembrava-se de uma infância que não fora sua. Devaneios à parte, voltava a realidade, com um saco de cimento nos ombros e gritos no ouvido, maldito chefe que não o deixava em paz. Sob o sol escaldante, via jovens milionários beberem e sorrirem, cercados de loiras estúpidas e turbinadas. Garrafa de whisky, latas e mais latas de cerveja importada. Champanhe no balde de gelo, e música eletrônica. Divertiam-se. Enquanto isso, Leocádio trabalhava na reforma da mansão à beira-mar de um bem sucedido empresário do ramo frigorífico. Suava, as mãos calejadas pelo serviço duro. A casa ficava numa praia particular no litoral baiano, a alguns kilômetros do vilarejo onde Leocádio havia nascido. Com apenas 22 anos, o jovem Leocádio tinha que trabalhar para sustentar seus 16 irmãos. Seu pai vivia alcoolizado e sua mãe há alguns anos não batia bem dos pinos, e passava a maior parte do dia alimentado galinhas invisíveis com pedaços de jornal picado. Sem estudo, carregava todo tipo de peso, e trabalhava braçalmente para os ricaços da região. Um paraíso selvagem, onde ele havia nascido e sido criado, agora todo comprado pelo capitalismo brasileiro. Olhava os jovens ricos e bêbados, despreocupados da vida, aproveitando e se esbaldando. Enquanto voltava para o caminhão para retirar mais um pesado saco de cimento, viu os jovens atirarem as moças ao mar, e rir sem parar. Riam muito, estavam alegres de verdade. Uma das moças já fazia topless, entornando várias doses de whisky caríssimo. Leocádio nunca havia visto seios tão bem feitos e grandiosos. Não conseguia tirar os olhos. Um dos playboys percebeu, e rapidamente convocou os amigos para tirar um sarro. Leocádio não percebeu e foi atingido por uma lata de cerveja na cabeça. O boné das Casas Bahia foi ao chão e os jovens se divertiram. Riam alto e mandavam o "cearense" continuar a trabalhar. Leocádio, zonzo, sentiu o sangue escorrer na testa. Enxugou com a manga da camisa e continuou a carregar sacos de cimento. Na volta, foi cercado pelo bando de playboys. Tremeu na base, todos eram enormes. "-ô cearense!" – um deles gritou. "-gostou de ver as garotas seminuas? Sabe o que é seminua?" , e os outros riram.
Antes que Leocádio pudesse esboçar qualquer reação, foi agarrado pelos playboys que diziam :" agora elas é que querem te ver seminu, paraíba, você vai tomar uma lição" . E imobilizado, viu os playboys arrancando sua calça e camisa. Debateu-se, mas não conseguia se livrar daqueles moleques crescidos. As loiras riam de se matar da situação do pobre nordestino peão de obras. Só de cuecas, percebeu estar sendo carregado em direção as pedras. Os jovens, alcoolizados, começaram a bater a cabeça de Leocádio nas pedras e as loiras divertiam-se, querendo mais violência. Quando soltaram Leocádio, já não havia mais dentes em sua boca, o nariz sangrava e um dos olhos já estava completamente fechado. Atordoado, levantou-se da areia e viu os jovens bebendo e divertindo-se, como se nada tivesse acontecido. Com raiva, foi até sua mochila e sacou a peixeira, velha amiga de lâmina afiada. Voltou até os jovens, que não perceberam sua aproximação. Foi até a loira de topless, e em dois golpes certeiros, decepou o silicone de ambos os seios. Horrorizados, os outros recuaram, com medo daquele monstro desfigurado e armado, com ódio no coração. Calmamente, ele pegou os peitos caídos com sangue na areia, enfiou no bolso, guardou a peixeira e foi embora. Leocádio era um homem de fibra e não levava desaforo pra casa. Mas peito de loira burra, sim.

brisa literária - por Janaina Gomes, colaboradora do Arauto

Essa é mais uma dessas histórias onde o nome dos personagens não interessa.
Ela pode ter acontecido hoje, ano passado ou há 15 anos.
Não interessa.
Aconteceu assim:
Ela estava na 3ª volta da piscina olímpica do clube, que se encontrava vazio.
Parou no meio da piscina e olhou em torno, percebeu que errara ao supor que estivesse só. Havia, agora, um homem sentado numa cadeira próxima à borda. O estranho lia uma revista e enquanto ela o olhava seus olhares se cruzaram.
A moça voltou a nadar e deu mais duas voltas e resolveu ficar ali boiando um pouco ...
Quando olhou novamente ELE havia parado de ler a revista e olhava fixamente para ELA.
Neste momento ela é acometida por uma súbita câimbra, o seu rosto torna-se uma máscara horrenda de dor... suas pernas doíam terrivelmente – ela não percebera que havia ido para a parte funda da piscina enquanto boiava. Enquanto ela olhava o estranho começou a sacudir os braços para chamar sua atenção. Ela se agitava e as agulhadas invadiam sua carne e a puxavam para o fundo, começou a engolir água enquanto tentava se levantar. Entre um erguer-se e um aforgar-se os olhos deles se cruzaram novamente, a dor subia pela espinha e já faltava-lhe ar, percebeu que lágrimas escorriam.
Ela precisava da ajuda dele.
Sentiu,enquanto miravam-se, que ele percebia que ela estava se afogando; mas, não parecia disposto a levantar-se, saltar na água, molhar suas roupas e salvá-la. Ele não parecia querer gritar para alguém por socorro e ir em seu auxílio. Ele só olhava-a.
Nisto ela pensa que deveria chamar por ele.
Sim!
Talvez fosse esse o desejo dele. Que ela implorasse por sua vida.
Ela percebe então, no fundo da retina daquele estranho, que não importaria, ela poderia gritar, implorar, clamar por misericórdia. Ele não ajudaria.
Por um momento ele sorriu como que convidando-a a gritar.
As pernas dela já estavam insensíveis tamanha era a dor. Ela deixa que as águas a levem para o fundo.
Seu pensamento naquele derradeiro instante foi: Ele jamais terá de mim esta última humilhação.

Janaina março/06

É TÃO DIFÍCIL ASSIM? capítulo 3 - texto de Rosa Pellegrino (um toque feminino no Arauto)

Capítulo 3


"Ele realmente não é o que dizem...", pensava enquanto caminhava pelo jardim. Naquele dia só teve a aula da manhã, então aproveitou o tempo livre para circular por Hogwarts. Lembrou-se dos profundos olhos negros, da pose de superior, da voz de veludo, do sorrisinho irônico e cruel e suspirou. "O que você tem Edrea? Tá com problema é? Precisa de remédios. O cara é intragável, frio e calculista... Mas ele me trata diferente... Diferente nada, é só impressão sua..."
Continuou em seu monólogo e nem notou que o objeto de seus pensamentos a acompanhava a distância. "Ela está tão pensativa... Por Merlin, por que você está preocupado com essa zinha!! Mantenha-se longe Severus, largue a mão de agir como tolo..."
Então os olhos deles se cruzam. Edrea sorri e se encaminha para Snape. "Vamos homem, deixa ela aí e suma." Mas as pernas estancaram no chão. Edrea se aproximou sorrindo. "Bom dia Snape! Como foram as aulas?"
"O de sempre srta. Gray... tentando colocar conteúdo naqueles cabeças ocas." Edrea riu. "Que sorriso encantador...", pensou o bruxo. Então, lembrando-se de quem era, adota a máscara irônica mas não consegue dizer nada para irritá-la. "O almoço será servido em 15 minutos."
"Obrigada."
Partiu rapidamente, com a capa aos ventos.
Mas no decorrer dos dias, Edrea nota que algo mudara. Severus Snape era agora mais condizente com o que costumavam dizer dele. Frio, calculista, irônico e cruel. Ele a olhava com indiferença, ou melhor, evitava olhá-la, como se ela fosse uma grande intrusa em Hogwarts. Minerva notou que a colega afundou-se em pensamentos e que não tirou seu olhar do prato durante todo o restante do almoço. "Algum problema querida?"
"Não srta. McGonagall, nada não" e se levantou da mesa, rumo aos seus aposentos. Apesar de parecer distante, Snape acompanhou-a com o rabo dos olhos e suspirou quando Edrea se foi. Alvo se limitou a observá-lo por cima de seus óculos de meia lua.
Edrea chega em seus aposentos e se joga na cama. Firenze acabara de almoçar e estava jogado ao pé da cama, dormindo. "Que diabos está acontecendo?" Ela se viu profundamente entristecida. Fechou os olhos e a imagem dele surge. Era como se ele estivesse em carne e osso lá. Ele sorria sarcasticamente e lia a mente dela. Ouviu sua voz num sussurro: "Então é isso garotinha? Eu, o temível mestre das poções, despertou sentimentos em seu tolo coraçãozinho?" Seguiu-se de uma risada diabólica e ela saltou da cama, sentando. Olhou o relógio. Já passara de uma hora desde que havia ido ao quarto. "Droga dormi. Isso não é bom sinal. Cansada no primeiro dia Edrea?" perguntou-se sem respostas.
A jovem resolveu tomar um banho, para livra-se da súbita canseira e tirar o peso que tomara conta de seu corpo. Durante a ducha, lembrou-se da promessa que fizera a si mesma quando conheceu Snape. "É, o jeito é evitá-lo, para não criar mais animosidades..." Ao sair do chuveiro já se sentia revitalizada. Dirigiu-se ao armário. Pegou uma calça caramelo de camurça, uma camisa com mangas bufantes branca, botou um colete em conjunto com a calça e gostou do resultado ao se olhar no espelho. "Isso, ótimo." Por fim, vestiu as botas, deu uma ajeitada no cabelo e se maquilou de leve.
"Não é o fim se um colega não a suporta Edrea. O ignore" aconselhou sua imagem no espelho. Esta assentiu. Lançou um olhar a Firenze, que a olhava sonolento. "Que você viu nele, hein? Ah, se quiser pode sair, mas não faça nada de incorreto com ninguém me ouviu? Com ninguém, por mais feio que seja o que viste, estamos entendidos?" Firenze encostou a cabeçorra na mão de Edrea, pedindo cafuné.
Nesse ínterim, Snape estava em sua masmorra, lendo interessado umas papeladas. Alvo entra e dirige um olhar paternal ao bruxo. "E então?" Sem levantar os olhos dos papéis, Snape diz, um tanto azedo, "E então o que Alvo?"
"Vamos meu filho, eu te conheço bem. Seu humor oscilou incrivelmente. Será a presença da nova prof..." Alvo não concluiu a frase, Severo o olha estreitamente. "Não diga coisas sem sentido meu prezado amigo... Por um acaso eu não tenho direito a mudanças no humor?" inquiriu sarcasticamente o mestre das poções.
"Certo, certo, não está mais aqui quem sugeriu essa loucura" – frisando essa última palavra. "Severus, saia um pouco e tome ar fresco, a tarde está magnífica e fará bem a você". Alvo se retira, sem dar tempo para que Severus rebata, novamente. "Por que ele sempre me deixa falando sozinho? Ou melhor, nem me deixa concluir?" Snape se alonga na cadeira, olha o teto, respira fundo e ruma para fora das masmorras.
"Ah, esse lugar é incrível", respirando a plenos pulmões o ar puro de Hogwarts, Edrea desce a escadaria do castelo. "Boa tarde srta. Gray."
"Ah, olá Hagrid, boa tarde!"
"O que está achando daqui?"
"É lindo Hagrid, magnífico! Um lugar muito acolhedor e cheio de coisas para se ver!"
"Que bom que gostou srta. Gray"
"Me chame de Edrea, Hagrid!"
"Ok, Edrea" e riu-se.
"Sabe Hagrid, estive pensando, vocês não têm cavalos?"
"Ó sim, temos um estaleiro. Vamos, deixe te mostrar."
Hagrid ficou muito feliz ao notar que Edrea parecia uma criança que ganhara um presente.
"Que maravilha!!"
"Pode escolher um e percorrer Hogwarts a vontade!! Só não vá à Floresta Escura, Dumbledore deve ter lhe avisado."
"Sim, rapidamente. Muito obrigada Hagrid!!"
"Disponha, estou na estufa cuidando de umas lesmas carnívoras, sabe como é..."
"Boa sorte com essas pestinhas."
"Obrigado!"
Hagrid se retirou e Edrea falou com seus botões "Bom homem, é bem a cara dele cuidar de criaturas perigosas... deve ser interessante acompanhar uma aula dele."
Nisso passeava pelo estaleiro e um cavalo em especial chamou a sua atenção. Um lindo garanhão castanho, com a crina brilhante e olhos doces. "Olá meu rapaz. Aceitaria dar um passeio comigo?", disse Edrea abrindo o portão. O cavalo a cumprimentou, dando confiança para que ela montasse. Colocando as luvas, a bruxa o montou e saiu em disparada do seleiro.
Snape passeava sem pensar em muita coisa e foi interrompido em seu silêncio por um grito. "Mas que diabos está acontecendo..." Viu Edrea sair freneticamente do estaleiro montada em seu cavalo!!! "Por Merlin, agora quer surrupiar o meu cavalo!!!" Rápido, como que por magia negra, ele se postou metros a frente da dupla e lançou um feitiço no cavalo.
"Petrificus!"
Com a parada repentina, Edrea perdeu o equilíbrio e foi arremessada para frente. Snape voou e a alcançou, antes que ela se espatifasse no chão. A tomando em seus braços, Snape sentiu a raiva se esvair. Ao identificar o seu "salvador" Edrea ficou uma fera, não a ponto de seus olhos perderem o aspecto humano, mas quase isso.
"O que deu no senhor?" tentando se desvencilhar dos braços perdeu o equilíbrio e quase caiu, não fosse Snape novamente.
"Eu ia fazer a mesma pergunta à senhorita...", olhando-a profundamente.
Recompondo-se e se afastando de Snape, Edrea segue "Eu estava apenas cavalgando. Pelo que sei isso não é proibido ou é Mestre das Poções?", sibilou sarcasticamente.
Com ar de desdém, o bruxo a olhou indolentemente "Não srta. Gray, não me referia ao fato de a srta. cavalgar, mas de surrupiar um cavalo que não lhe pertence", e, lembrando que Focus ainda estava petrificado, desfez o feitiço e se encaminhou ao garanhão.
"Está tudo bem meu amigo?" perguntou ao ouvido do cavalo e este retribuiu com um relinchar.
Edrea olhava aquela cena com um rosto de gozação e ao mesmo tempo provocação. Foi então que ela se assustou. Snape a olhou com todo o ódio possível e sacou sua varinha. "Não ensinaram a srta. que não se deve tomar o que é dos outros?" Por essa Edrea não esperava.
"Professor Snape, peço-lhe mil perdões, mas não tinha nenhuma plaquinha indicando que o cavalo era propriedade privada. Pensei que era da escola e.."
"CA-LA-DA!!"
Aquilo a fez saltar e tremer. Snape se aproximou a passos rápidos e firmes. A cabeça de Edrea estava a mil. "Sai daí, vai. Ah, qual é, você é um animago, ataca ele..." Não concluiu os pensamentos, Snape estava a menos de um palmo dela.
Ela sentia a respiração ofegante dele ricochetear a sua própria pele. Os olhos faiscando de ódio e de... hein?? Não terminou o raciocínio. Ouviu Lupin chamando-a. Snape guardou a varinha e dirigiu ao professor o olhar mais mortal que este já vira.
Lupin chegou correndo e, ofegante, perguntou o que estava acontecendo. Edrea se concentrou. "Relaxe Remo. Vou sugerir ao Dumbledore que ponha placas indicando de quem é cada cavalo..." e olhou Snape com indiferença. "Se me derem licença, vou ajudar o Hagrid com as lesmas carnívoras." E saiu de lá não se sabe como. Suas pernas pesavam, a cabeça girava e o perfume daquele bruxo insolente tomou suas narinas. "Maldição. Quanto mais eu fujo, mais assombração me aparece..."
"Severus, você estava prestes a lançar um feitiço na Edrea?"
"Lupin, cuide de suas coisas. E eu não ia lançar feitiço na srta. Gray, para o seu conhecimento... Agora me dê licença, vou cuidar do Focus."
Lupin jura que algo muito grande talvez tivesse ocorrido se ele não chegasse a tempo...
"O que houve Edrea? Parece que viu um bicho papão", era Hagrid preocupado com a fisionomia da amiga.
"Pior Hagrid, peguei o cavalo do Snape e ele viu... ficou possesso, parecia que enlouquecera... como eu ia saber?"
"Hum, não sei o que dizer Edrea. Snape é um cara fechadão, alguns diriam até cruel, o que discordo, mas realmente não conheço esse lado possessivo dele... realmente é estranho..."
"E as lesmas carnívoras? Como vai indo?" mudou rapidamente de assunto e constatou um Hagrid animado com os progressos do combate a praga.

sexta-feira, março 24, 2006

É TÃO DIFÍCIL ASSIM? capítulo 2 - texto de Rosa Pellegrino (um toque feminino no Arauto)

Capítulo 2


Na manhã seguinte, Edrea não comparece ao café no salão comunal. Snape percorre todo o local com os olhos, sem sucesso. Notando o interesse do amigo, Dumbledore se posta ao seu lado. "A srta. Gray está muito ansiosa pela primeira aula que dará em Hogwarts. Está se preparando em seus aposentos. Pedi a Dobby que levasse o café da manhã para ela." Conseguiu tirar de Snape apenas um abafado hum-hum.
Após o café da manhã, os bruxos se reúnem na sala dos professores antes de seguirem para suas tarefas diárias. Dumbledore entra na sala e faz um breve anúncio. "Bom dia a todos! Convido-os para acompanhar a primeira aula que a Srta. Gray fará em Hogwarts, para as turmas do 5º ano de Grifinória e Sonserina. Aguardo-os às 8h na sala de aula, no 2ª andar, ala leste."
Os professores começam a cochichar. Absorto em seus pensamentos, Snape conclui cruelmente "Então a srta. Gray quer holofote ??"
No horário combinado, os professores se acomodam nos fundos da sala, lugar já visto por Snape no dia anterior. Sonserina e Grifinória não reparam na presença dos mestres e bagunçam como nunca. Era como se eles não estivessem lá. Dumbledore nota a expressão dos amigos e explica "coloquei um feitiço para que os alunos não notem a nossa presença. Assim será inútil qualquer bronca. Ah, mais algumas coisas" – dirige o olhar à Snape – "a idéia de acompanharmos a primeira aula da srta. Gray foi minha" – desvia o olhar de Snape e passa os olhos por todos – "ela também não sabe que estamos aqui!" Dumbledore não conteve uma risada travessa e se pôs em seu assento.
A sala parecia a masmorra, de tão escura. Repentinamente, a porta se abre e por ela passa Edrea acompanhada do fiel Firenze. Com passos decididos e a capa esvoaçante, Edrea abre as janelas com sua varinha a medida que adentra o recinto. A luz do dia domina o ambiente. Edrea se encosta à mesa, encarando os alunos abismados, enquanto Firenze senta ao seu lado.
"A luz é a base para a Defesa contra as Artes das Trevas", diz uma Edrea animada observando que causou um efeito interessante nos alunos mudos. No entanto nota que Firenze olha fixamente um aluno da Sonserina e que este está em pânico.
"Firenze... seja gentil, não assuste meus alunos." Firenze solta um rugido. "Firenze!" Disse enérgica e um tanto zangada para o bichano. "Limite-se ao seu lugar!!" Nisso a grande pantera torna-se um gato preto, sobe na mesa da professora e solta um miado, como que pedindo desculpas. "Assim é melhor". Os professores não contiveram os sorrisos. Snape acompanhava tudo atentamente, com olhos de lince.
"Como já sabem, sou Edrea Gray e estou aqui para ensinar-lhes a Defesa contra as Artes das Trevas." Edrea tira a capa, joga na mesa. Sirius solta um assovio, Lupin dá um beliscão nele. Snape parecia hipnotizado. Escuta Lupin sussurrar à Sirius "Então ela esconde o jogo... Aquela capa guarda belas visões não é mesmo Sirius?" Este concorda com a cabeça. Sobe o sangue de Snape, que se concentra no que Edrea está dizendo.
A bruxa se dirige como uma gata para a mesa, senta-se na cadeira e joga as pernas sobre a papelada da mesa, mostrando as botas de amazonas. Subitamente surge um cristal em sua mão e ela começa a brincar com o objeto. "Qual é a base para a Defesa contra as Artes das Trevas?", pergunta, sem ouvir respostas, nem um pio. Só o tic-tac do relógio de parede.
Rapidamente, o cristal some, Edrea se levanta e se dirige a frente do tablado, com as mãos na cintura. "Por Merlin! Será possível que vocês são bruxos do 5º ano? Ah, acho que não, com medo de um gatinho desses..." disse, apontando Firenze que já estava a sono alto na capa da dona.
"Pelo jeito vocês não prestaram um pingo de atenção no que eu disse, não é mesmo?? Qual é o problema de vocês?" Então Edrea nota que Firenze não estava mais a sono alto, dirigia um olhar à um grupo de sonserinos no canto da sala, entre eles aquele do início da aula. A jovem conhecia bem aquele olhar fixo e viu as coles aquele do stas do felino ficarem arrepiadas. Snape fica apreensivo.
Caminhando-se aos rapazes no canto da sala, Edrea sussurra inaudívelmente "Legimens". Não foi difícil ler o que passava pela mente dos alunos e a professora corou instantaneamente. "20 pontos a menos para Sonserina", fala alto Edrea. Snape fica possesso: "Quem ela pensa que é, eles não fizeram NADA!!" Dumbledore o segura no braço fazendo sinal para aguardar.
Os sonserinos fazem protesto. Edrea os olha com um olhar de tigre, sim, os olhos castanhos humanos se foram, cedendo o lugar para olhos de tigres, amarelos com a típica fenda. Sirius se delicia e Lupin cutuca o amigo para ele parar de rir. Com uma feição muito séria, Edrea se aproxima, ainda com os olhos felinos, olha para o grupo de sua atenção e diz num tom abaixo do normal e letal: "Tais pensamentos não condizem com o lugar em que se encontram senhores." Aumentando a voz, continua "se querem pensar indecências, o façam longe daqui!!" A sala silencia. Os grifinórios e boa parte dos sonserinos pareciam descrer do que ouviram.
Os professores ficam pasmos e olham para Snape, diretor da Sonserina. "Eu... eu vou tomar uma atitude, não se preocupem", avisa Snape, num misto de indignação e ódio pelas atitudes de seus alunos.
Todos os professores voltam as atenções para o tablado. Edrea continuava com os olhos de tigre. Minerva finalmente fala: "Alvo, não é melhor você interferir? Ela está realmente zangada."
"Não Minerva, a srta. Gray tem muito auto-controle, não fará nada de incorreto com os alunos."
Nesse ínterim, Edrea se dirigiu a lousa e escrevia algumas coisas. Snape ainda não se conformava com a atitude dos sonserinos. Nisso escuta Sirius cochichando ao Lupin "Até eu, com uma professora dessas, não ia prestar muita atenção na aula." Snape os fuzila com o olhar. Flitwick pede calma ao mestre das poções e Dumbledore pigarreia pedindo ordem.
Edrea se volta aos alunos, com seus olhos castanhos. Minerva suspira aliviada. "Então, qual é a base para a Defesa contra as Artes das Trevas?", direciona aos alunos, desviando o olhar do grupo de sonserinos que não tiravam os olhos dos cadernos.
Sem muitas esperanças de resposta, Edrea fitou uma mão da Grifinória se erguer.
"Ah, finalmente, uma alma caridosa" disse irônica. "Prossiga."
O grifinório, timidamente, diz "A luz."
"Querido, para que servem os seus pulmões?? Acho que muitos não ouviram. Vamos, diga em alto e bom som."
"A luz professora."
Os professores notaram o rosto da colega se iluminar e um largo sorriso ornamentou sua face. "Isso mesmo Sr. Bottom, a luz!! Lição número 1: nós temos dois ouvidos e uma boca. Assim sendo escutem mais e falem menos, têm muito o que ganharem com essa atitude!"
Risos gostosos foram emitidos pelos alunos e os professores assentaram com a cabeça.
Snape estava como em hipnose, no restante da aula não tirou os olhos da colega, acompanhando cada passo da bruxa.
A aula transcorreu muito bem, obrigada. "Na próxima aula, tragam por gentileza uma dissertação sobre a base da defesa contra as artes das trevas, no mínimo dois pergaminhos, e leiam o capítulo 1. Estão dispensados e tenham um bom dia. Com exceção do fatídico grupo da sonserina." disse, dirigindo um sorriso sarcástico aos alunos que tremiam na base. Os bruxinhos se foram, permanecendo apenas o incógnito grupo ao fundo da sala e os sonserinos abusados.
"Então senhores, o que me propõem?" Disse a frente da mesa, com braços cruzados e um olhar fuzilante.
Silêncio. "O professor Severus Snape é o diretor da Sonserina, não é mesmo?" O grupo confirmou com a cabeça. Edrea reparou que Firenze estava bem desperto, ainda em forma de gato doméstico, mas com os olhos fixos nos garotos. Rosnou.
"Firenze, se acalme. Falarei com o Sr. Snape, ele que cuide desse assunto. Não quero mais ver os seus focinhos. Vamos, SAIAM!!"
Os sonserinos correram em carreira, derrubando cadeiras. Com um gesto da varinha, Edrea as arrumou. Firenze voltou a ser uma pantera e andava nervosamente de um lado ao outro. A bruxa suspira e comenta com o bichano "Calma lá Firenze, eles não iam agir de fato", os olhos da bruxa tornam-se de tigre novamente, relembrando o que viu na mente dos garotos. "Mas, diga-me Firenze, o que achou da minha primeira aula? Nada mal né? Quer dizer, eu acho que foi legal..." Nisso o bicho estava se entrelaçando nas pernas da bruxa, ronronando.
O grupo de professores ainda estava encantado no fundo da sala. Com um movimento da mão, Dumbledore retira o feitiço. Subitamente Edrea olha em direção ao fundo do lugar e nota, contrariada, os colegas caminhando em sua direção.
"O que temos aqui?", cruzando os braços sobre o peito, estreitando o olhar. "É minha impressão ou assistiram a aula sem serem convidados? Não acham que estão um pouco crescidos para acompanhar lições de 5ª série?"
"Sabia que não ia se zangar", dirige-se Dumbledore, abraçando Edrea.
"É impossível zangar-se com o senhor" retribuiu Edrea.
Ela nota que Snape se encontra ao se lado, com Firenze aos seus pés,de barriga para cima, mordiscando a barra de sua calça. Aquela cena foi um espanto aos presentes, com exceção de Alvo. "Olha só, o morcegão enfeitiçou o Firenze", declarou um Sirius abismado. Edrea se pôs a frente da cena. "Qual é a sua Sirius? Se Firenze gosta do Sr. Snape, ele tem uma boa razão para tal."
"E a dona, gosta de cachorros?", disse Sirius com um olhar malicioso, nem ligando para a cara de espanto de seus colegas. Edrea se aproxima dele, como uma gata, sorriso nos lábios, e ronrona no ouvido de Black, para todos ouvirem: "Nunca ouviu falar que gatos não gostam de cachorros?" e se afastou com um olhar penetrante. Alvo não conteve o sorriso maroto, Minerva fez cara de desaprovação para Black, Lupin ficou mudo olhando para o chão, Flitwick e o restante fizeram que não viram.
Snape... bem, Snape deu um meio sorriso, não daqueles gélidos, mas um meio sorriso descontraído e satisfeito com a resposta da colega.
Com os seus pigarrinhos, Alvo chamou a todos para a realidade. "Bem, em nome de todos, parabenizo a senhorita pela significante e encantadora aula que deste. Sinto-me orgulhoso de tê-la em nosso quadro de professores. Se nos der licença, já nos retiramos e, por que não, me desculpo pela maneira travessa que acompanhamos a sua aula!"
"Tudo bem senhor" e sorriu.
Os professores se retiraram. Menos Snape, que tinha o assunto pendente dos sonserinos para resolver. Pelo menos era o que ele respondeu a si próprio, quando interrogado pela consciência do por que ainda estar lá. "Já viu a aula da zinha. Agora vá! - Mas preciso antes resolver a patifaria dos meus pupilos. - Tá... sei..."
Sabendo do que se tratava, Edrea puxou uma cadeira para Snape e convidou-o a sentar-se. Snape sentou-se. Os dois prenderam a respiração quando viram o bichão pulando no Snape, mas graças a Merlin, Firenze tornou-se um gatinho a tempo e se aninhou no colo do mestre das poções.
"É, realmente Firenze te adora! Confesso que nunca o vi agir assim com ninguém... além de mim mesma!"
"É um animal magnífico srta. Gray. E um grande companheiro." Olhou-a no fundo dos seus olhos, tomou uma feição profundamente séria. "Srta. Gray, nem sei como poderei remediar o que meus pupilos lhe fizeram... são jovens inconseqüentes... é impossível proibi-los de ter pensamentos hum... incorretos... eu lhe dou carta branca par a escolher a punição."
"Snape, como você ouviu, não quero mais ver o focinho deles... por gentileza, tome qualquer atitude cabível, o senhor é o diretor deles, sabe dos pontos fracos. Faça o que achar necessário."
Acariciando Firenze, que dormia profundamente em seu colo, Snape assentiu e desviou o olhar daqueles intensos olhos castanhos, direcionando-os para a janela, que mostrava um lindo dia.
Voltou suas atenções a Firenze. "Sinto muito amiguinho, mas o Snape aqui tem aulas a dar." Edrea deu um riso gostoso que encheu o ambiente de calor. Snape olhou-a, um olhar indecifrável, mas a bruxa sentiu que não continha nada de frio ou sarcástico naquele olhar, mas ainda assim não conseguiu compreendê-lo.
Snape entregou o felino dorminhoco a sua dona e com um aperto de mãos disse-lhe, em uma voz aveludada e profunda, "Até o almoço srta. Gray".
"Até."
Já na porta, Snape se volta para ela. "Ah, e parabéns pela aula", com o famoso ar de mestre das poções, com um pouco de sarcasmo na voz e ironia no olhar. Com um farfalhar de capa, o temível mestre das poções se retirou da sala, deixando apenas um Firenze dormindo profundamente, uma Edrea pensativa e um perfume amadeirado que a bruxa sorvia a plenos pulmões.
Edrea vai até a janela, imersa em pensamentos sobre o misterioso Severus Snape.

quinta-feira, março 23, 2006

Uma novela sem pé nem cabeça – Capítulo 2 – por Rodrigo Pinto

Enquanto isso num casebre na zona leste de São Paulo, Clotilde....dorme profundamente.
Clóvis levanta-se meio tonto, de ressaca, se apóia no guarda-roupa e esfrega os olhos. Com raiva, desliga o irritante despertador comprado de um ambulante peruano que trabalha no Arouche. Vai cambaleando em direção ao banheiro, e no meio do caminho, esmaga uma barata com a sola do pé descalço. Resmunga alguma coisa, gira o registro e enfia a cabeça debaixo da água gelada. Enquanto refresca as idéias e cura a bebedeira, Clóvis lembra-se do estranho sonho que o assaltou naquela noite. Pensa em Clotilde. Sente alguma coisa. Não sabe explicar, mas aqueles devaneios do subconsciente queriam lhe dizer algo. Sabia que havia qualquer mensagem por trás daquelas cenas. Sem entender, pega uma toalha, enxuga-se, escolhe qualquer peça no armário e sai pra mais um dia de trabalho. Logo que abre a porta, dá de cara com uma testemunha de Jeová, um rapazote com cara de homossexual, engomadinho num terno velho, cheirando a naftalina. Sorrindo, estende um papelzinho com fotos coloridas de pessoas felizes, crianças brincando com leões e elefantes, céu azul e sol brilhando. Clóvis aceita o papel, enfia de qualquer jeito no bolso de trás da calça jeans e dizendo-se atrasado, dribla o fiel e corre em direção do ponto de ônibus mais próximo. Ainda ouve o rapazinho dizer ao longe: "Cuidado, quem não tem tempo para Deus, é porque está ocupado pelo Satanás!"
Nesse exato instante, Clotilde desperta assustada, o coração disparado e o suor escorrendo pelo rosto. Benze-se, e ajoelha para fazer a primeira oração do dia. Ela também havia sonhado. Sonhou com um rapaz, que lhe dizia coisas que não podia entender. Alertava sobre o futuro. Fazia gestos e gritava alucinado, naquela língua estranha. Rezou fervorosamente. Levantou-se e foi para a cozinha tomar café. Ao chegar lá, encontra sua mãe caída de rosto no chão, com pernas e braços numa posição impossível, contorcidos. Grita e leva as mãos à cabeça. Sente a presença do mal.

Uma novela sem pé nem cabeça

Capítulo 1

Clóvis andava por um corredor branco, extremamente limpo, mas que recendia luxuria e perversão, não era claro, porém Clóvis sentia isto. Mesmo não gostando da situação ele continuou andando pelo corredor até que finalmente encontrou uma porta e ao abri-la teve a visão mais bizarra de toda a sua vida: Era Clotilde a garota crente, freqüentadora dos cultos diários da Igreja Pentecostal do Reino Quadrangular Batista Apostólica, a mulher que há tempos ele vinha xavecando no trampo, mas que nunca dava bola porque ele era “do mundo” como diziam na igreja. A mulher estava nua, ou melhor vestindo apenas cinta-liga, e estava sendo currada por uma travesti nojenta com a barba por fazer, levando chicotadas em suas nádegas e implorando por mais força, tanto nas estocadas quanto nas chicotadas.
Primeiro Clóvis sentiu raiva – Aquela puta não quis namorar comigo e agora dá pra um traveco! – depois sentiu uma vontade incontrolável de participar da cena, estava quase entrando na sala quando escutou um rosnado, era Rex o pitt-bul da vizinhança, que ele odiava por latir a noite inteira. O cachorro começou a avançar pra cima dele com tanta fúria no olhar que seu único pensamento foi: - Tô fudido vou correr.
No instante seguinte, Clóvis corria tanto que sentia os calcanhares batendo em sua bunda. De repente um barulho insurdecedor começa –PI PI PI PI, PI PI PI PI, PI PI PI PI !
Ele se mexe e acorda todo suado, olha no relógio 7:10
-Tenho que trampar porra.

Enquanto isso num casebre na zona leste de São Paulo Clotilde....

É TÃO DIFÍCIL ASSIM? capítulo 1 - texto de Rosa Pellegrino (um toque feminino no arauto)

É TÃO DIFÍCIL ASSIM?
Por Rosa Pellegrino

Disclaimer: grande parte dos personagens pertence a J. K. Rowling, os outros são de minha criação. Não pretendo lucrar nada com a história e/ou os personagens, apenas me divertir e entreter os leitores. Obrigada.
Par: Severus Snape/ personagem original.
Censura: livre.
Gênero: romance.
Spoilers: acho que nenhum.
Resumo: a nova professora de Defesa contra as Artes das Trevas gera um conflito no Mestre das Poções.
Agradecimentos: ao talentoso e encantador Alan Rickman...
Nota: não foi betada. Desculpem as falhas.

Capítulo 1

Mais um ano se inicia em Hogwarts. Já fazia dois anos que a famosa turma do Harry Potter se formou. Mas algumas coisas nunca mudam: o zelador Filch e sua gata Madame Nor-r-ra perturbando os alunos; o Pirraça fazendo suas travessuras, a Murta que Geme assombrando o banheiro desativado das meninas, a disciplina de Defesa contra as Artes das Trevas ainda parecia amaldiçoada...
Sim, os professores não duravam mais que um ano lecionando a matéria. Não que eles morressem, longe disso, mas sempre acontecia algo que acabava afastando os bruxos incumbidos de ensinar a Defesa. Neste ano, mais uma professora se candidatou e conseguiu a vaga. Tratava-se de Edrea Gray, uma bruxa notável. Sim, notável por ser tão jovem e já capaz de lecionar em Hogwarts.
Dumbledore a trata como filha. Fez questão de comunicar antes a todos os professores sobre a nova aquisição da escola de magia. E, como sempre, quem parece que não gostou nada da história foi Severus Snape, professor de Poções. Era notório o seu desejo em lecionar a disciplina que, mais uma vez, outro bruxo "a tomou", conforme seus próprios pensamentos.
Dumbie disse maravilhas de Gray, e os colegas ficaram muito curiosos, entre eles Remo Lupin e Sirius Black, também professores. "Deve ser outra bruxa doida", Snape lembrando da profª Sibila, que leciona Adivinhação, "ou talvez com segredos escusos", referindo-se a Lupin.
No 1º dia letivo de mais um ano em Hogwarts, após todas as cerimônias de praxe, Alvo Dumbledore finalmente apresentou a nova professora. Todos ficaram encantados. Todos? "Mal saiu das fraldas e leciona Defesa contra as Artes das Trevas?", vociferou em pensamento Snape, erguendo uma sobrancelha e percorrendo a bruxa da cabeça aos pés. Edrea Gray era muito branca, com cabelos curtos e escuros em um penteado jovial e moderno, não chegava aos 23 anos. Vestia calças pretas justas, camisa azul e botas de amazonas. Mas grande parte da composição era omitida pela capa verde que vestia.
Alvo fez questão de apresentar a Srta. Gray ao Snape. Este, por sua vez, deu o seu famoso meio sorriso gélido e depositou um leve selinho na mão da jovem bruxa. Gray já sabia da fama do Mestre das Poções e falou o mínimo possível com o homem alto e frio a sua frente.
Alvo parece ter percebido todas as sensações que percorreram o seu mestre das poções: "Tão jovem, tão inteligente é? Parece que vai ser interessante..." Snape começou a pôr a moça a prova: questionamentos sobre Defesa contra as Artes das Trevas. Um duelo de inteligência e... de egos.
"Por um acaso o senhor está me testando?? Não que eu realmente ligue para tal tipo de provocação, apenas sinto pelo Dumbledore, que depositou sua confiança em mim... assim como o fez à você!!" Após a derrota de Lord Valdermort, no último ano de Potter em Hogwarts, muita coisa veio a tona, inclusive o papel primordial de Snape na luta contra as trevas e da relação de confiança entre Dumbledore e ele.
Não deu tempo de Snape responder. Edrea já tinha dado as costas e se dirigido à porta de saída do Salão. Por sua vez, Snape ficou muuuito estarrecido e indignado. A passos largos seguiu a "atrevida" que o provocou. Dumbie apenas se limitou a um sorriso maroto, enquanto os outros professores acompanhavam curiosos a cena.
Edrea realmente pode comprovar o gênio dos mestres de poções após esse breve embate e prometeu a si mesma que o evitaria ao máximo. "Que deu naquele bruxo? Não fiz nada à ele, nem ao menos me conh..." Um braço forte a puxou para fitar um par de olhos negros e profundos. Edrea, por um momento, ficou hipnotizada. Foi um breve momento, pois a voz rouca e carregada de veneno sibilou: "Não brinque com fogo srta." Snape a puxou para mais próximo de si, Edrea viu um brilho intenso nos olhos dele e temeu pelo que poderia acontecer.
"Severus, deixe a moça em paz. Já vai amaldiçoá-la por ela lecionar Defesa??", dirigiu-se em um tom zombeteiro Sirius, que seguiu o casal e ficou um tanto arrependido por ter interrompido a cena. "O que será que o morcegão ia fazer com a gatinha??", pensou ironicamente Black.
"Sirius, vá caçar um osso no jardim", disse Snape um tanto contrariado.
"Ora, ora, Severus... conheço o seu rancor quanto a não ser escolhido para lecionar Defesa, mas atacar uma bruxinha tão encantadora..." Era a vez de Lupin atazanar Snape.
Ninguém viu, mas subitamente Edrea mostrou um pouco a que veio: transformou-se em um tigre e fugiu daquela situação o mais rápido que pode. "Um animago... Fantástico!!", disse Sirius seguindo com os olhos o belo animal que repentinamente sumiu ao cruzar a esquina do corredor.
"Tsk tsk... Não sabia que os ânimos aqui estavam tão... estimulados."
"Perdão Alvo, mas ela se mostrou muito... atrevida. Isso eu não admito", tentou se explicar Snape.
"Claro Severus... entendo." Era perceptível um sorrisinho. "E vocês dois? O que fazem aqui?", dirigiu-se Alvo à Sirius e Lupin.
"Notei que a bruxinha tirou o morcegão aí do sério", riu-se Sirius.
"É, se não tivéssemos chegado, talvez ele a amaldiçoasse", Lupin tentou parecer o mais sério possível, mas não conseguiu esconder o tom zombeteiro em sua voz.
"Voltem ao salão, a festa ainda não acabou", solicitou Alvo. "Menos você Severus." Sirius e Lupin se retiraram.
Snape fitou o velho amigo. "Sim Alvo, o que eu tenho que fazer?"
"Será que preciso dizer?", Alvo estava com um sorriso estranho, conclui Snape. "Certo Alvo, já trago ela".
Em um instante Alvo havia partido, antes mesmo de Snape perguntar aonde eram os aposentos da Srta. Gray. "Maldição!! Como vou achar essa zinha???"
Então, aquele momento lhe voltou à mente: ela em seus braços, olhando-o com um misto de raiva e receio... seu perfume o invadindo... seus olhos castanhos grudados aos seus... O som de risadas o trouxe a realidade e ele seguiu no corredor, como o tigre havia feito.
Suspirando, notou uma escada. Seguiu e chegou a uma encruzilhada. "Diacho, e agora?? Ah Alvo, sei que não me disse aonde é o aposento da bruxa só para eu me perd..." Foi então que ele ouviu uma música, calma, doce e incrivelmente melancólica. Seguiu em direção ao som e parou em frente a uma porta de mogno, com rosas e gatos talhados. Seus dedos longos percorreram as formas talhadas.
Deu duas batidas, a porta se abriu sozinha. Snape entrou silenciosamente no recinto. A música vinha do fundo do lugar. Olhou a sua volta. Era uma sala de aula. Seguiu até o outro lado da sala e mais uma porta o interrompeu. Uma porta bem maior, ainda de mogno, mas parecia um portal, com os mesmos gatos e rosas entalhados. Mais uns toques na porta. A música finda.
Edrea abre a porta e seus olhos lhe dizem tudo: um misto de espanto, raiva e receio... "Sr. Snape, em que posso ajudá-lo?", disse com a voz firme.
"Srta. Gray, peço-lhe desculpas pelos meus modos instantes atrás e, em nome de Dumbledore, convido-a a se juntar conosco na festa", disse Snape de modo frio e calculado.
"Alvo? Perdoe-me, mas só aceito o convite quando este é feito pessoalmente pela pessoa interessada", e fez um rápido movimento para fechar a porta na cara do Snape. Mas Snape foi mais rápido, bloqueou a porta com a mão esquerda e segurou o pulso de Edrea com a direita. Empurrou-a para dentro e trancou a porta.
Edrea ficou horrorizada, quis berrar, mas parece que Snape leu sua mente. "Não adianta gritar Srta. Gray, ninguém a ouvirá com aquela festa toda". Por alguns instantes que pareceram eternos, Snape ficou fitando-a, como se estivesse invadindo a sua alma e sua mente. Os olhos negros invadiam os de Edrea, que por sua vez tentava não demonstrar o quanto tremia.
Finalmente, Edrea acabou com o silêncio. "O que eu lhe fiz Sr. Snape? Faz minutos que fomos apresentados e o senhor me odeia!!"
Com aquele sorrisinho sarcástico mas incrivelmente sedutor, Snape se limitou a ceder seu braço para que pudessem ir ao salão comunal. Edrea apenas o fitou com olhos indecifráveis, ignorou a oferta e deixou-o sozinho.
Snape não freiou a curiosidade e percorreu o local. O lugar era acolhedor, com muitas samambaias pelas paredes, paredes verdes, uma mesa perto da janela, com tudo muito organizado. Foi então que ouviu um ruído. Um rosnar de felino. "E agora, voltou como um grande bichano??" disse ao nada, já que constatou que não era Edrea.
Qual não foi o seu espanto ao ver uma pantera negra vindo em sua direção, não se sabe de onde, com um par de olhos fixos nele. "Por Merlin!!" Foi apenas o que lhe passou na mente. Mas a pantera o surpreendeu. Sentou-se na sua frente, analisou o homem e, estranhamente, começou a ronronar e se entrelaçar nas pernas de Snape, fazendo-o quase cair com a força do bichano. Um tanto espantado, Snape começou acariciar a fera, que deitou-se ao seus pés, pedindo mais carinho. "Desculpe amiguinho, mas não posso ficar" disse e saiu sem olhar para trás.
Ao retornar ao salão, viu que Edrea deveria estar se divertindo muito, conversando com Sirius e Lupin. "Aqueles dois, não perdoam uma." A jovem se afastou dos dois falantes bruxos e se dirigiu a porta, rumo aos jardins. Mas não saiu. Admirou-o de lá mesmo. Não notou Snape se aproximar por trás.
"Que animal encantador a srta. tem", disse Snape ao pé do ouvido dela, com um tom baixo que a fez repentinamente tremer. "Como disse", virou-se Edrea, mas essa agora tinha o pânico estampado no rosto. "Disse-lhe que tens um animal encantador". Como se não acreditasse no que via em sua frente, Edrea observou Snape por inteiro e até o tocou no rosto, como se ele fosse um fantasma.
"Que houve?", sussurrou Snape.
"Fi... Firenze!! O que o senhor fez com ele?" Disse ao mesmo tempo em que partia para cima de Snape com os punhos cerrados batendo no peito do mestre das poções.
"Mulher, contenha-se!!", segurou os seus pulsos e a trouxe para perto dele. "Eu não fiz nada, qual é o seu problema?"
"Er..." tentou se desvencilhar mais uma vez de Snape.
"Perdão" e a soltou. "Vamos ao jardim", solicitou o bruxo.
Edrea o acompanhou murmurando "não entendo, eu não entendo..."
Chegando ao jardim, Snape se posta a sua frente e pergunta, com toda aquela pose de mestre das poções, "O que a srta. não entende?"
"Firenze... O que ele fez ao senhor?"
"Nada, ou melhor, se enroscou em minhas pernas e ronronou como um gatinho doméstico, pedindo carinho."
"O QUE??"
"Isso é tão terrível Srta. Gray?"
"Firenze não admite estranhos... ele tem a capacidade de ver o íntimo das pessoas e se não gostar do que vê as ataca, caso eu não esteja por perto é lógico... eu não o deixo sozinho por aí... só nos meus aposentos..." desatou a falar nervosamente.
Snape abriu um largo sorriso sarcástico. "É, pelo jeito o Firenze gostou do que viu." Divertiu-se ao vê-la com cara de confusa, tentando descobrir o que estava de errado. "Algum problema?"
"Ele também não aceita quem não gosta de mim", comentou Edrea enquanto se aproximava de Snape. "Qual é a sua?", perguntou ao mestre das poções, para total espanto dele.
"Qual é a minha? Não me faça rir srta. Gray. Apesar dos falatórios eu não sou um monstro e muito menos amaldiçoou quem é incumbido de lecionar Defesa."
Edrea corou e pediu desculpas. Virou-se para entrar, mas novamente o braço de Snape a pegou e, puxando-a, olhou-a nos olhos e disse num ronronar "Eu já havia lhe pedido desculpas pelos meus modos anteriormente. Espero que agora a srta. as aceite de bom grado." Edrea se limitou a concordar com a cabeça. Os sons e risadas fizeram Snape voltar a si próprio e a tomar controle de seu instinto. Soltou-a. "Vamos entrar." E seguiram para o salão. No restante da festa, evitaram o contato. Mas Edrea sentia os olhos negros a observarem freqüentemente. Mas não se atreveu a verificar se era verdade ou apenas efeito do vinho.

quarta-feira, março 22, 2006

Diga a verdade, ao menos uma vez na vida - por Rodrigo Pinto

Sem ressentimentos, o.k., você venceu. Posso abrir os olhos agora. O vento batia morno no cabelo, que balançava suavemente pela testa. Enquanto esperava a verdade, cansou e dormiu. E sonhou. Viu vilas e becos, praias e montanhas. Mas não viu o que procurava. Debaixo da árvore, ouvia as folhas balançando e sentia o cheiro de mato. Nada de carros, nada de barulho. Só devaneios. Acredita ainda, mesmo que sujo lhe pareça. Lembra-se de momentos, e reflete sobre o que é certo. O certo e o errado. Correto ou não, não passa vontade. Aguarda o momento belo. Nunca se entrega, porém sente o gosto da derrota, sabe que chegou sua hora, sabe que chegou sua vez. Não perdeu por esperar. Apenas foi sincero consigo mesmo. Fiel a seus sentimento e valores, aprendidos quando era um pivete descabelado de chinelo de dedo pedalando uma Monark aro 20, freio a disco. Ria dos tombos, mas agora eles eram maiores. Quanto mais crescia, de mais alto caía. Mas antes havia subido. Sim, tudo o que sobe tem que descer. Mas não despencar, como um elevador sem cabos. Descer devagar, galgando aos poucos, procurando seu espaço. Era tarde demais. A primavera se foi, e agora não tem mais flores, nem relógios para apressar-lhe os pensamentos e embaralhar as decisões. Prazos e vencimentos. Obrigações e postura a manter. Falta de respeito. Mas que raios, ponha-se no seu lugar. Não deve nada pra ninguém, porque tem de passar por isso? Atitudes que trouxeram marcas. Feridas fechadas, que se abrem ao mais leve toque. Sutil, indireto, e tão certeiro quanto uma flecha numa maçã equilibrada na cabeça do bobo da corte. Malabares e fogo. Lenços e luzes. Pode sair agora? Acabou o show? Quem se escondeu, se escondeu. Quem não se escondeu, não se esconde mais. Prontos ou não, aí vou eu.

terça-feira, março 21, 2006

Fumo, fuga - por Rodrigo Pinto

Naquele final de tarde, Manuela apoiava a cabeça num dos braços, e com a outra mão tamborilava os dedos na mesa de alvenaria que servia de apoio pro computador. Já fazia 3 dias que havia parado de fumar, mas a vontade crescia a cada minuto lento que passava dentro do escritório. Tédio. Nada pra fazer. O chefe já havia ido embora, mas ela tinha que esperar dar o horário. Merda de vida. Queria um cigarrinho. Só um cigarrrinho...
Fagner era o faxineiro. Estava varrendo os cantos da sala e assobiava algum tema do comercial de Hollywood. Manuela agora roía a unha do mindinho e coçava a virilha usando o grampeador. Fagner percebe a movimentação e inventa de passar pano. Passa na mesa, passa no chão. Com sutileza, se esgueira por baixo da mesa de Manuela e logo tem uma visão privilegiada das pernas da moça. Manuela percebe, e levanta-se de um pulo. Vai até o rádio-relógio e liga numa estação de AM que chia notícias e ouve uma propaganda de fixador de dentadura. Depois do reclame, um locutor rouco anuncia uma fuga em massa de um presídio ali perto. Manuela se apavora. Fagner não se abala, mas sugere que não será seguro sair do prédio aquela hora, já estava escuro, era melhor ficarem ali até a polícia tomar conta da situação. Manuela concorda, mas quer um cigarro. Mostrando-se corajosos e viril para impressionar a fêmea, Fagner vai até o boteco da esquina comprar um maço. No meio do caminho, é feito refém pelo fugitivo Petrônio. A polícia cerca. Negociação. O pobre Fagner sente o fedor que Petrônio emana, depois de rastejar alguns metros pelo esgoto. Tensão. Nervos a flor da pele. A imprensa em peso. Jornalistas. Câmeras. Flashes. Petrônio se irrita. A polícia percebe e resolve agir. Tiros, gritos. Petrônio e Fagner caídos. Este, num último esforço balbucia algo como : "ela só queria um cigarro, e seria minha".
Enquanto isso, Manuela espera. Coçando a virilha e roendo a unha do mindinho.
E morrendo de vontade de fumar.

segunda-feira, março 20, 2006

Dia (IN)comum

Como ele poderia levar a sério a notícia do jornal?


Quando ia à banca, procurava aquelas revistas pornográficas em preto-e-branco, com fotos malfeitas e balõezinhos estilo histórias em quadrinhos, reproduzindo os diálogos. Subia todo dia a mesma rua de manhã, maldita ladeira, e quando chegava no ponto de ônibus, não importa o banho que havia tomado, nem a roupa limpa que pegou na gaveta, já se formaram duas pizzas, uma embaixo de cada braço, e o colarinho já estava umedecido, a testa brilhava sob o sol, escorrendo gotas pelas costeletas.
Parava no boteco e pedia uma cerveja. Porra, 7 horas da manhã. Sede. Calor. Ônibus sempre lotado. As mesmas pessoas, o mesmo caminho. Odiava rotina. Sorvia generosos goles, e ouvia o noticiário no radinho de pilhas antigo do dono do bar. Moscas sobrevoavam o bolo de fubá embolorado, e o cheiro da cozinha dava náuseas. Pagou o casco, e foi para o ponto de ônibus. Lá, a loira com uniforme de recepcionista. Todo dia. Lencinho no pescoço, cabelo engomado pra trás, preso em coque. Colete azul-marinho, e saia da mesma cor até os joelhos. Camisa branca abotoada até o pescoço. "Bom dia, moça". Ela olhava com repugnância aquele cabeludo suado e com bafo de álcool logo cedo. Ele sorria para o nada e abria um livro de simbologia religiosa, anarquismo e criptografia. Lia com atenção, mas o barulho dos motores não deixava assimilar nada.
O ônibus chega, e junto com ele aproximadamente 87 pessoas espremidas umas nas outras. Subia com dificuldade e odiava o velho que encoxava a menina segurando os cadernos. Sentia o cheiro de perfume vagabundo, das secretárias atrasadas. O suor do mestre-de-obras e o cheiro de loção pós-barba dos yuppies de cara lisa e gel no cabelo. Viajava de pé, equilibrando o livro e os pensamentos. Lhe pesava nos ombros o dia-a-dia corriqueiro.
Alguns minutos depois, que pareceram uma eternidade, salta do coletivo no centro da cidade, onde apressados vão pra lá e pra cá, desviando dos ambulantes e cuidando das carteiras e bolsas. Pára na porta de um prédio antigo, respira fundo e entra. Mais alguns passos e espera um elevador barulhento e mofado, movido a manivela por um ascensorista de 132 anos.
Pede o décimo-terceiro andar e tem certeza que é seu dia de sorte, quando no quinto andar, entra no elevador o motoboy, com uma mochila maior que ele e um calhamaço de papéis endereçados a chefes de porra nenhuma.
Chega em seu ambiente de trabalho e não encontra ninguém. Não entende merda nenhuma e telefona pra um colega. Este lhe diz que estão todos dispensados, morreu o dono da empresa e o velório está ocorrendo neste momento. "Saiu no jornal , cacete! Você não viu?".


Sim, ele tinha visto. Mas não tinha levado a sério.

Eu só tento olhar...

Para a metade cheia ao invés da metade vazia, não sou um otimista de carteirinha, blasfemo oitenta por cento do meu tempo, fico puto quando as coisas dão errado, mas sempre entendo que tô no lucro quando abro os olhos de manhã. Isso me faz pensar como é ser uma pessoa que todos os dias só vê o túnel ao invés de mirar a luz (que no fim das contas pode estar dois passos pra trás).
Este parágrafo aí de cima serve pra que eu me lembre de ser diferente de algumas pessoas que andam me cercando ultimamente. Fera! Problemas todo mundo tem, grandes e pequenos o que muda é a forma que lidamos com eles, o que no meu caso funciona numa filosofia de vida meio que senhor Miagy: se o problema é pequeno, não merece preocupação. Se ele não tem solução, você vai se preocupar por quê? E dessa forma levo minha vida sendo um cara bem humorado, e pelo menos eu acho, ninguém fala: Lá vem o chato. – quando eu chego. Nessa minha visão maniqueísta e comodista do mundo tudo tem solução simples:
O chefe te enche o saco? Peça as contas
A comida é ruim? Não come
Não gosta do curso da facu? Mude
Seu vizinho é um puto de merda que liga o cd da bunda calypso às 3 da manhã do domingo? Ligue o metallica no talo às 03h30min da manhã de segunda.
Não gosta mais da namorada? Termine.
O carro ta dando problema? Venda.
Cara sua vida é muito curta pra que você perca seu tempo remoendo o que queria ter feito, mas não fez porque tinha um puto te enchendo. E pior que isso é você se tornar um puto que enche o saco dos outros utilizando filhos, facu, namorada, mãe como muleta para ficar em uma posição incômoda, porque não tem coragem de mandar o mundo à merda.
Eu penso todo dia. E, por enquanto, ta valendo a pena e minha posição. E a sua ta legal?


Este texto estava no arauto antigo, mas como as pessoas continuam as mesmas eu resolvi republicar...

quinta-feira, março 16, 2006

VIDA (SUR)REAL

Sim, chove horrores. Ventos frios e relâmpagos que clareiam as poças no chão, dando a impressão de que são pequenas lâmpadas escondidas sob o asfalto. Olho pra elas, e me vejo refletido a cada raio cuspido do céu. Me lembrava da minha infância, quando a cada relâmpago, era um pulo. Assustava mesmo, que nem cachorro vagabundo quando você bate o pé no chão. Sendo assim, naquela tarde de quinta-feira, eu esperava o aguaceiro dar um tempo para eu correr até a estação do metrô. Precisava ir embora, queria ir pra casa. Ao meu lado, um mendigo fedendo a mijo tentava acender uma bituca de cigarro úmida. Sem sucesso, praguejava. E peidava. Estava ficando insuportável, mas tava realmente chovendo muito. Cada rajada de vento fazia com que eu me protegesse mais naquele toldo de loja de 1,99, fechada aquele horário. Segurava uma pasta como se contivesse documentos importantíssimos, valiosas ações do Banco Internacional da Cochinchina. Mera ilusão, era apenas um livro de contos de terror. Na falta do que fazer, abri no conto número sete, que não me lembro o nome e comecei a lê-lo. Contava a história de uma menininha mimada que gostava de grudar chiclete no cabelo das outras meninas. Ela ria maléficamente, e no outro dia ria mais ainda ao encontrar a amiguinha de corte de cabelo novo, tipo joãozinho. Mas toda noite ela sonhava. Sonhava com uma estrada escura e molhada por uma tempestade. Olhei ao redor e me achei em situação parecida. Durante a noite, ela sempre visitava a tal estrada e corria, corria mas não achava nada. Seus pais tinham grana, o pai era matador de aluguel e a mãe, diretora de uma empresa de cosméticos transgênicos. Numa noite dessas, a menininha foi acordada pela mãe, que dizia que elas precisavam fugir. Assustada, enrolou-se numa toalha e saíram pela porta da frente. "Onde está o papai?" – ela perguntava, e a mãe nada respondia. Chovia forte aquela noite e as duas entraram correndo no carro. A mãe deu a partida e acelerou forte, fazendo com que a garota se assustasse. Fez uma curva arriscada e pisou fundo em direção a estrada próxima. Passaram por viaturas de polícia com sirenes ligadas. Estavam saindo da cidade, quando a menininha reconheceu a estrada dos sus estranhos sonhos. A chuva. O asfalto molhado. As poças brilhando com os raios. Ela não acreditava. A mãe estava descontrolada e não falava palavra alguma.
De repente, escutei o mendigo vomitando, e com raiva fechei o livro e chutei seu estômago. O desgraçado vomitou até as tripas e desmaiou. A chuva havia parado. Guardei o livro e segui meu caminho, pela rua escura e molhada. Pára um carro do meu lado. Olho e vejo uma mulher no volante. Havia uma garotinha do lado. Me chamaram , como para pedir uma informação. Ao me aproximar do automóvel, fui surpreendido com um chiclete no cabelo. O carro acelerou e foi embora.
Estranhei, mas parei num sebo e troquei o maldito livro por uma revista de surf. Quando abri a primeira página, uma viatura passa a toda pela rua, bem em cima de uma poça, levantando uma onda que me encharcou dos pés à cabeça. Continuei meu caminho e tive a impressão de escutar um mendigo rindo alto.

DEVER DO CIDADÃO

Enquanto esperava o ônibus, Varlei lia o jornal e mastigava um chiclete como um asno comendo capim seco. Chovia, e as pessoas espremiam-se sob a cobertura do ponto de concreto. No bar da esquina, Jackson e Bira disputavam uma partida e sinuca e vibravam a cada bola encaçapada. Varlei não conseguia se concentrar. Estava lendo as instruções para declarar o Imposto de Renda, porra. Coisa séria. E esses pinguços gritando e fazendo barulho. Varlei não havia concluído a sexta série. Tinha dificuldade com letras e números. "Mais uma!!" – gritava o Bira, e não sabia se comemorava a bola derrubada ou se estava pedindo mais uma dose de cachaça. Uma lufada de vento arranca o jornal das mãos de Varlei que corre atrás da folha na chuva. No mesmo momento, Jackson dá uma cusparada pra fora do bar, com raiva de estar perdendo a partida pro Bira. O catarro esparrama na cara do pobre Varlei que havia agachado pra recuperar seu periódico. Jackson ri. Bira ri mais ainda. O coitado do Varlei ali, todo molhado, com catarro escorrendo pela testa e pendurado nos cílios, agachado segurando a porra do jornal encharcado. Ele encara os dois:
Seus bêbados de merda, já declararam o imposto de renda? O governo fode vocês, seus idiotas. Penduram-se num copo de cachaça e esquecem dos seus deveres de cidadão.
E dizendo isso, vira-se e num passo em falso, tropeça na calçada e cai na sarjeta alagada e imunda. O ônibus vinha passando no mesmo momento. Passa por cima de Varlei. As pessoas no ponto se aglomeram na porta do coletivo para entrar e pegar um lugar pra sentar. E o Bira mata mais uma bola.
Valentia

O dia estava chuvoso, eu encostado no balcão sebento daquele buteco sujo esperava ela e viajava no som da água caindo no toldo de lona desbotada, um som que me lembrava muito o baixo de uma musica do Muddy Watters, pensei em perguntar ao paraíba que me serviu a cerveja meio sem gelo se ele também não achava isto, mas desisti primeiro porque ele com certeza não saberia quem era Muddy Watters, segundo porque poderia ser só uma viagem minha devido ao delicioso baseado que eu havia fumado minutos antes.
Olhei para o relógio no anúncio de Malboro colocado sobre o caixa. Será que ela viria mesmo? Há muito tempo ela deixara de atender meus telefonemas e agora do dia pra noite me liga desesperada dizendo que é muito importante me ver e toda aquela balela apaixonada.

Deixo estes devaneios de lado e peço outra gelada:
- Ô Ceará desce mais uma skol, e gelada desta vez hein !
O garçom muito relapso me traz outra cerveja “meio-gelada” penso em xingá-lo, mas ao olhar para o lado tenho a visão mais bela dos últimos meses é ela envergando um vestidinho preto quatro dedos acima do joelho, deixando toda aquela morenice ianomâmi dominar minha visão com seu 1,58 mt de altura, seu corpo bem-feito parece a sensualidade em forma de gente.
Toda essa visão dionisíaca se esvai no momento em que um brutamonte vestido com uma camisa do palmeiras passa por ela diz alguma gracinha e passa a mão em sua bunda, aquela bunda que eu estive sonhando em apertar o dia inteiro.
Ato continuo dou um salto e antes de tocar o chão da calçada em frente ao bar já quebrei a garrafa ainda cheia na cabeça do brucutu com tanta gana que ele desaba no chão. Somente após vê-lo desmontar sobre os músculos anabolizados é que me dou conta que o filho da puta está acompanhado de mais dois tapados, igualmente anabolizados. Passo a mão para trás do jeans que estou vestindo e saco o canivete estilo butterfly que sempre carrego, só o fato de desembainhá-lo com um pequeno malabarismo faz com que os mocorongos hesitem partir pra cima.

Digo quase entre dentes: - E aí? Quem quer me dar a honra de ser o primeiro, a sentir o aço desta gracinha aqui?

Ao longe escuto umas sirenes os otários me olham com ódio e eu prontamente retribuo o olhar. Eles ajudam o cara que levou a garrafada, agora com um talho na testa, a se levantar e saem andando.

Olho pra ela , e vejo seu sorriso maroto como que rindo da minha cara, olho para o garçon e ele me olha com um espanto de quem diz: - Este cara é maluco...

Vou até ela e digo: - você não perde a mania de andar com roupas curtas não é ? – e sorrio
Ao que ela responde: - E você nunca vai deixar de ser esquentado né?

A beijo com lascívia e peço outra cerveja...

quarta-feira, março 15, 2006

Passeio Noturno

Insônia era o problema de Micail. Não dormia com lua, estrelas, essas coisas que vêm junto com o descanso. Não gostava dessas balelas de vampiro, seres da noite, mas bastava o sol se esconder, e Micail não conseguia pregar os olhos. Revirava na cama, se enrolava nas cobertas, mas de nada adiantava. Certa noite, cansado de ficar deitado se revirando como lingüiça na frigideira, Micail levantou-se, vestiu uma calça jeans velha, uma camiseta preta e saiu pela porta da frente. Acendeu um cigarro, e sem saber pra onde ir, foi caminhando no sentido de um posto de gasolina que ficava alguns quarteirões de sua casa. O referido posto era ponto de encontro de jovens com carros turbinados, e havia uma dessas lojas de conveniência que abastecia os ânimos da galera com muita cerveja e vinho. Era uma terça-feira quente de fevereiro e as ruas ficavam cheias até tarde da noite. Chegando ao posto, Micail ficou impressionado com a algazarra. Tragando profundamente seu cigarro, vislumbrou carros com motores roncando, outros com porta-malas abertos exibindo caixas de som do tamanho de bicicletas e que faziam um escândalo ensurdecedor com as músicas mais tocadas das rádios FMs. Garotas dançando e bebendo, rebolando e sorrindo para os rapazes que exibiam suas máquinas, e adrenalizados aceleravam pela avenida. Micail odiava aquilo. Queria dormir e não podia. Raiva. Rebeldia. Não tinha amigos ali, e nem queria. Tragou mais uma vez, jogou a bituca no chão e continuou caminhando. A pequena bituca foi rolando, até encontrar um rastro de gasolina. Micail só ouviu a explosão, e gritos. O posto foi pelos ares. Todos os jovens mortos e o silêncio da noite agora só era quebrado pelo crepitar das chamas. Micail voltou pra casa, e pela primeira vez nos últimos meses, conseguiu dormir tranquilo.

Mais uma de bêbado

Mas como é que pode ser verdade uma porra dessas?
Denerval estava babando em frente o computador, sem nada pra fazer no emprego e pensando na vida.
Depois do porre homérico do domingo, faltou no trabalho na segunda-feira e deu a desculpa da caganeira.
"Nunca mais vou beber tanto", pensava enquanto ia navegando por páginas de futilidades virtuais. Já fazia dois dias que Denerval não punha uma gota de álcool na boca. Não conseguia acreditar que estava dominando o vício. ao final do expediente, caminhou devagar até o metrô, quando ouviu uma voz feminina lhe chamar. Era Matilde, uma antiga amiga de faculdade. Para sua surpresa, ela estava linda, num vestido preto que demarcava suas formas ainda joviais. Envergonhado, barrigudo e barbado, cumprimentou meio sem jeito, enquanto enfiava a camisa pra dentro da calça. Ela estava realmente muito surpresa e revê-lo e não demoraram a entrar em um boteco do Centro para relembrar os velhos tempos. "Fudeu, já tô no copo de novo" - Denerval pensava e tomava mais um gole. Matilde, animada pela cerveja e pelo bom papo do amigo, ria e jogava os cabelos pra trás, meio zonza. Dois fedelhos entram no boteco vendendo rosas. Denerval compra uma e oferece a Matilde, que lhe retribui com um beijo. Mais umas cervejas e ambos já saíam abraçados, um se apoiando no outro, sem saber pra onde ir. Denerval vê um táxi e faz sinal. Eles entram no banco de trás e começam a se beijar enlouquecidos. Janjão, o taxista, não perde tempo e acelera pra zona leste. Pelo espelho retrovisor, jap enxerga os seios de Matilde, que Denerval não consegue parar de apertar. Excitado, Janjão ajeita o espelhinho para mirar por debaixo da saia. Ao encontrá-la sem calcinha, fica impressionado e esquece-se do volante. Não demorou a chocar-se contra um poste. Matilde foi arremessada e morreu com o crânio no pára-brisas e os seios na cara do Janjão, a essa altura sem pernas. Denerval abre a porta e sai, trôpego. Acende um cigarro e procura outro bar. Aquele susto deu sede.

Aventuras na Madalena

- Puta que pariu ! porque a gente desceu nessa porra? Se qualquer um do centro servia caralho?
- Sei lá, você que quis descer daquela merda, seu puto bêbado do caralho!
Na verdade o inicio deste dialogo começou sete horas antes através do msn um amigo chama o outro e diz:
- Aí ta a fim de colar num coquetel hj? (Aqui cabe um parêntese para dizer que na verdade os bêbados em são dois dos maiores invasores de coquetéis da gigantesca paulicéia desvairada, mas continuando...)
- Hum, sei lá... O coquetel é do quê?
- Lançamento do livro da mãe de um camarada meu aqui do trampo
- Beleza tô dentro. Mesmo esquema de sempre? Plataforma do metrô?
- Sim. Tô indo pra lá daqui a pouco.
- Certo.
Alguns minutos depois nossos heróis começam os preparativos para a aventura do dia: Coquetel com boca livre na Vila Madalena.
Porém como convém a toda boa aventura as coisas saem do esperado assim que os dois amigos chegam ao evento. Primeiro, ironicamente, eles são os primeiros a chegar literalmente, e as bebidas servidas são refrigerantes (argh!), a autora é na verdade uma mãe (muito legal, por sinal) quebrando todos os esteriótipos de autor, o livro é de poesia, que apesar do esforço da autora está muito aquém do que podemos chamar de literatura. Mas nem tudo estava perdido logo na entrada uma das garotas que trabalhavam no evento se encanta com um dos aventureiros e começa a puxar assunto, enquanto isso o outro estava tentando de enturmar com a família da autora (que na verdade, além de nossos heróis foi que compareceu ao lançamento) e pensava – Caralho, porque fui esquecer a porra da maconha? Sem álcool nessa festa e com este puto tentando xavecar essa mina vou ficar careta e sozinho. Mas seus pensamentos estavam em parte errados, pois ao contrário das estatísticas, a garota desconversa e corre de nosso amigo... Segundos depois – E aí vamos tomar uma gelada no bar da esquina no desbaratino??
– Claro! ...


Continua... talvez...

terça-feira, março 14, 2006

Um dia normal

Texto de
Luiz Bernardo Junior

O homem abriu os olhos e deu uma espiada pela janela, o dia amanheceu cinza chumbo, parecendo premeditar a melancolia que corroeria seu coração durante o dia. Inspirou profundamente, passou a mão pela barba e sentiu uma dor lancinante na cabeça resultado da excessiva quantidade de álcool da noite anterior. Quando na conversa com amigos e com a mesa abarrotada de garrafas de cerveja e vinho barato tentava esconder de si mesmo a insatisfação com o mundo porém sem um motivo aparente.

Levantou-se coçou a barba mais uma vez e pegou a maconha que estava no bolso da calça, bolou um baseado deixou sobre a mesa da cozinha e foi para o banho. Com a velha calça jeans e a camiseta desbotada preparava-se para sair quando se lembrou do baseado sobre a mesa voltou pegou o beck e foi para seu trabalho rotineiro na secretaria de administração municipal onde era apenas o cara do 25º que ninguém conhecia realmente, ao fechar a porta acendeu o baseado como se fosse um cigarro, há tempos já havia decidido deixar de esconder seu vício dos vizinhos.

Ao passar pelo portão parou na caixa de correios pegou as contas que, este mês pelo menos, estavam todas em dia, reclamou como fazia sempre que abria uma correspondência da companhia de luz, colocou as contas dobradas no bolso de trás da calça e seguiu em direção ao ponto de ônibus, podia ter ido de carro, mas achava que deixando o carro em casa durante a semana contribuía para a redução do buraco na camada de ozônio.

O beck estava na ponta quando ele entrou distraidamente na avenida principal do bairro, pensava em como resolver um problema de trabalho que havia deixado pendente no dia anterior e em como convencer aquela gata da recepção a ir tomar uma gelada com ele no bar do joão depois do expediente. Levou um susto quando escutou a freada brusca da blazer “são paulina” de onde desceram quatro orangotangos fardados despejando ofensas :
- Aê maconhêro filho da puta não se mexe!!! Encosta na parede! Vai logo, seu pau no cú do caralho!! Cadê o resto? Onde você pegou essa porra??

Ele como sempre se manteve impassível e respondendo somente o indispensavél aos brucutus fardados até o momento em que o menor e mais idiota dos policiais lhe deu um soco no peito por achar que ele estava calmo demais diante de tamanha ignorância. Ao sentir a dor no osso esterno e a falta de ar ,sentiu tanto ódio dos filhos da puta que era como se seus olhos pudessem perfurar as almas e de quebra os olhos de diversas gerações daqueles desgraçados, porém manteve-se impassível.

Depois disso os policiais foram embora sem importuná-lo mais, e ele seguiu seu caminho em direção ao ponto de ônibus...

MEU CANDIDATO

Às vezes a gente volta no tempo, sem sair do lugar. Vai, vai, sente cheiros e sabores, vê cenas e revê horrores, busca sossego e encontra alívio, mas quando volta tudo está no mesmo lugar. Quando olha pra dentro, sai da órbita, revê valores e busca peças para encaixar a situação e onde deveria estar.
Lembra-se de quando só havia pó e pedra, e hoje o que está construído? A verdade em si leva desaforo, sonhos de infância que se vertem em vida real. Desilusão e apático cotidiano, mas não deixa de lutar.
Crê no que é belo, e senta-se, clicando um ridículo mouse e correndo dedos pelo teclado despeja idéias e reflete sobre tecnologia.
Não perde tempo, e um chamado político obedece. Como quem chama um cachorrinho pra beber água, ou uma puta para que o satisfaça. Não teme a morte, e busca abrigo num copo. Quebra-se e arrependimento, volta e disfarça, olha pra si mesmo, a barba por fazer, quilos a perder, e um futuro todo pela frente.
Texto de RODRIGO PINTO – parte II
Por mais estranho que parecesse, o tempo parecia não passar ali. As mesmas pessoas, os mesmo carros , o mesmo cheiro de pipoca que o carrinho parado ali do lado deixava escapar. Roniel continuava ali, indiferente à tudo que acontecia a sua volta. Sem perceber, já tinha ficado a maior parte do dia ali, encostado, pensando em devaneios e incertezas que afogavam o âmago do seu ser. Sempre alheio ao mundo real, Roniel resolveu mexer-se. Caminhou alguns passos, e avistou um local familiar. Não se lembrava de onde, mas reconhecia o local como se estivesse estado lá um dia antes. Entrou e logo o aroma de bebida alcoólica invadiu suas narinas , fazendo-o desejar mais um pouco. Estava num bar, escuro e malcheiroso. Sim, ele estivera ali na noite anterior, porém seus atos e palavras eram-lhe desconhecidos. Sentiu o estômago arder e percebeu que não se alimentava à algum tempo. Lembrou-se de quando morava com sua família, da mesa cheia das coisas que mais gostava. Lombo assado, molho caipira e muitas azeitonas. Farofa fresquinha e cheirosa, salada de tomates e azeite de oliva. Arroz branco, fumaçando com cheiro de tempero de alho. Uma garrafa de cerveja estalando de gelada. Gostava de Skol, era sua preferida. Maldita cerveja, maldita bebida. Porque se apoderara dele? Porque fez com que abandonasse tudo, e preferisse se apoiar num copo cheio? Quando voltou a realidade, estava sentado numa cadeira ao fundo do boteco e o dono lhe indagava:
Como tem coragem de voltar aqui Roni?
Me traz uma cerveja - respondeu sem emoção.
O homem resmungou algo, mas voltou para o balcão, abriu a geladeira com estrépito e jogou a cerveja na mesa de Roniel, com um copo visivelmente mal lavado. Não estava a fim de conversa, mas achava estranho como o sujeito tinha a manha de voltar ali, depois de tudo que ocorrera poucas horas antes. Mal sabia que Roniel sequer lembrava. Este, porém, havia prestado atenção na pergunta do dono do bar, que se chamava Péricles. Encheu o pequeno copo americano, sem ligar para as marcas de dedos e gordura que envolviam as extremidades do objeto. Tomou um grande gole, que lhe molhou a garganta e chegou ao estômago como uma ducha fria num dia de verão. Perdeu completamente a fome, e já se entregava novamente ao seu vício. Mais uma vez reviu a figura de Péricles lhe perguntando como tinha coragem de voltar lá. Ele era freguês naquela merda, porra. Ia sempre encher a cara naquela espelunca. Devia um pouco de dinheiro ali, mas sempre que sobrava algum, deixava na mão do Péricles. O que havia de errado na presença dele ali, naquele dia estranho? Não se lembrava de praticamente nada, apenas do choro estranho que ouviu quando despertou. Foda-se, pensou e tornou a encher o copo. O corpo queria mais álcool e a mente, respostas. Acalmou-se e tentou reviver os fatos. Nada, a cabeça doía. Olhou em volta e reconheceu um sujeito que dormia apoiado nos braços na mesa ao lado do banheiro. Viu a máquina de caça-níqueis, e num flash, viu a si mesmo colocando umas moedas ali. " Agora vai" , via-se dizendo e rindo á toa, com um copo cheio numa das mãos, e a outra envolta numa cintura de mulher. Quem era ela? Parou, e tentou visualizar o rosto. Não conseguia. Acendeu um cigarro e tragou profundamente. Soltava a fumaça e a observava subir, vagarosamente, iluminada pela fresta de luz que passava por uma das janelas encortinadas. Lembrava uma neblina densa e sombria, um reflexo do que faz mal. Sorriu e tragou novamente. Gostava de se fazer mal, curtia se acabar, achava que merecia. "Me dá um cigarro?" – viu o rosto de um moleque, 18 ou 19 anos, o que fazia no bar aquela noite? Voltou a observar a fumaça e as lembranças apareciam aos poucos, quem seria o moleque? Quem era aquela mulher que ele abraçava? Provavelmente dois bêbados que estavam por ali, curtindo se matar também. Curtindo a noite. Perigosa e cheia de armadilhas, porém muito atraente. Assim como aquela moça. Que cintura bela. Parecia vê-la ali mesmo, na sua frente, mas faltava-lhe o rosto. Fechou os olhos, mas não conseguiu. Só viu o salão cheio, risadas, fumaça e o barulho de copos brindando. Abriu os olhos e sentiu-se tonto. Virou a garrafa vazia no copo também vazio, e chamou por Péricles. Quantas vezes havia repetido esse gesto na noite anterior? Não se lembrava, mas o homem já vinha com outra garrafa cheia, e bateu-a na mesa com força. Roniel reparou que ele gostava de intimidar os clientes, sentia-se mais dono do bar. Riu do próprio pensamento e acordou o homem que estava na outra mesa, que levantou a cabeça e espiou. Roniel o reconheceu, "ele estava ali ontem", pensou. De fato, a aparência do sujeito era de quem havia dormido por ali mesmo, com uma maleta na cadeira do lado e um prato sujo de farelos à sua frente. O homem deu um longo bocejo e voltou a se apoiar nos braços sobre a mesa, ao mesmo tempo que a porta do bar se abria, enchendo o ambiente de claridade e de sons da rua. Entraram duas pessoas, uma velhota carregada de maquiagem, e uma linda moça, com vestido discreto e sandálias de dedo. Sentaram-se perto da janela e Péricles foi solícito e simpático, trazendo uma enorme garrafa de vinho e duas taças. Roniel nunca as havia visto por ali, apesar de lhe parecer que eram freguesas de longa data, pelo jeito com que foram tratadas, sendo servidas sem pedir nada. As duas encheram as taças e começaram a beber, papeando. De sua mesa escondida, Roniel não conseguia ouvir a conversa e nem queria. Começara a sentir novamente aquela dor incomoda no estômago, de quem não se alimentava há dias. Dessa vez não lamentou-se lembrando de sua casa, mas esforçava-se para saber quando e o que havia sido sua última refeição. Não podia forçar a mente, que sentia forte enxaqueca, " as lembranças tem que vir naturalmente" - pensou.
Mais de duas horas depois, Roniel já havia tomado mais de 6 garrafas de sua Skol gelada, a preferida, e as idéias já estavam desordenadas, porém, como o bar não parava de encher, deciciu não se levantar. Havia algo estranho, todos agiam como se ele não estivesse lá. Parecia invisível, ou desprezível. Mas no fundo sabia que algo iria acontecer.
Roniel acordou meio zonzo, sentindo um cheiro pútrido no ar, não se lembrando muito bem do que havia acontecido. Olhou em volta, e surpreso, percebeu que havia adormecido num banheiro público. Enormes poças de urina e montes de fezes espalhados pelo chão, portas rabiscadas e torneiras secas nas pias manchadas. Espelhos quebrados, moscas e trapos de roupas num canto do aposento. Pequeno, deveria ter uns 10m², uns 3 boxes, 3 mijadores presos à parede e 2 pias. Levantou-se, respirou fundo e se arrependeu. Cheio de náuseas, levou a mão a boca e quase instintivamente correu para um dos boxes para vomitar. Quando abriu a porta suja e quebrada, as dobradiças rangendo, seus ouvidos captaram outro som que desviou sua atenção e reteve o mal estar. Um choro. Baixinho e sofrido, mas com certeza havia alguém chorando ali por perto. Então Roniel parou. Apurou os sentidos e tentou decifrar de onde vinha aquele som triste. Ouvia o zumbido das enormes moscas varejeiras, e também o pinga-pinga de uma goteira. Sentindo a cabeça doer, voltou a ouvir o gemido, algo como uma criança sozinha no escuro que sentia falta de seus pais. Tentou localizar mais uma vez, mas cada vez que achava que estava se aproximando, o choro parava. Intrigado, começou a abrir os boxes um por um, e a espiar em busca de quem chorava daquela maneira, pausada e ritmada, que o levava a querer cada vez mais encontrar o dono daquela agonia e aflição. Uma lâmpada piscava, falhando. No primeiro boxe, nada além de sujeira, muita sujeira. No segundo boxe, a mesma coisa, e também no terceiro. Foi quando ele ouviu mais uma vez, claro como se estivesse ao seu lado. Girou o corpo em silêncio, e procurava atento. Nada além dele mesmo. O choro persistia, e parecia vir de dentro dele. Parou. Refletiu e percebeu que era de lá mesmo. O choro vinha do seu coração. Estava delirando, ou sentia seu coração chorar? Ouvia cada batida, cada soluço, do seu próprio ser, causando aquele desconforto involuntário. Tapou os ouvidos e correu, fugindo da sua própria dor. Esqueceu-se completamente de onde estava, e ao sair do banheiro, a luz do sol cegou-lhe momentaneamente. Ouvia buzinas e motores roncando, poucos pássaros gorjeavam, e aos poucos, recuperando sua visão, viu a praça. Estava no centro da cidade e os mendigos olhavam com curiosidade. Os trabalhadores, apressados, não notaram a presença daquele jovem ali, esfregando os olhos, com as calças sujas e amarrotado. Ouviu ao longe o sino da igreja bater 7 vezes. Sete horas. A noite devia ter sido horrível, não sabia dizer, não queria se lembrar. Ajeitou a blusa, revirou os bolsos e encontrou pouco dinheiro, o suficiente para um maço de cigarros. Foi o que fez. Comprou cigarros, acendeu um deles numa bituca que ainda fumegava no chão próximo ao ponto de ônibus, e ali encostou, esperando respostas para mudas perguntas que não queria fazer.