quarta-feira, março 22, 2006

Diga a verdade, ao menos uma vez na vida - por Rodrigo Pinto

Sem ressentimentos, o.k., você venceu. Posso abrir os olhos agora. O vento batia morno no cabelo, que balançava suavemente pela testa. Enquanto esperava a verdade, cansou e dormiu. E sonhou. Viu vilas e becos, praias e montanhas. Mas não viu o que procurava. Debaixo da árvore, ouvia as folhas balançando e sentia o cheiro de mato. Nada de carros, nada de barulho. Só devaneios. Acredita ainda, mesmo que sujo lhe pareça. Lembra-se de momentos, e reflete sobre o que é certo. O certo e o errado. Correto ou não, não passa vontade. Aguarda o momento belo. Nunca se entrega, porém sente o gosto da derrota, sabe que chegou sua hora, sabe que chegou sua vez. Não perdeu por esperar. Apenas foi sincero consigo mesmo. Fiel a seus sentimento e valores, aprendidos quando era um pivete descabelado de chinelo de dedo pedalando uma Monark aro 20, freio a disco. Ria dos tombos, mas agora eles eram maiores. Quanto mais crescia, de mais alto caía. Mas antes havia subido. Sim, tudo o que sobe tem que descer. Mas não despencar, como um elevador sem cabos. Descer devagar, galgando aos poucos, procurando seu espaço. Era tarde demais. A primavera se foi, e agora não tem mais flores, nem relógios para apressar-lhe os pensamentos e embaralhar as decisões. Prazos e vencimentos. Obrigações e postura a manter. Falta de respeito. Mas que raios, ponha-se no seu lugar. Não deve nada pra ninguém, porque tem de passar por isso? Atitudes que trouxeram marcas. Feridas fechadas, que se abrem ao mais leve toque. Sutil, indireto, e tão certeiro quanto uma flecha numa maçã equilibrada na cabeça do bobo da corte. Malabares e fogo. Lenços e luzes. Pode sair agora? Acabou o show? Quem se escondeu, se escondeu. Quem não se escondeu, não se esconde mais. Prontos ou não, aí vou eu.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que surpresa boa achar esse texto entre tantos outros do Arauto!
Como é que eu não tinha lido antes?
Gostei, gostei mesmo.
Simples, eficaz, certeiro.
E o final que remete lembranças boas...além do encontro passado versus futuro.
Foi essa a impressão que eu tive: brincadeira de esconde-esconde com a falta de exatidão do futuro.
"Prontos ou não, aí vou eu."
Bjosss